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quarta-feira, 28 de julho de 2010

REFLEXÃO ( CRÔNICA DE VERÍSSIMO)

EU ACREDITO!
Como Deus, a democracia também põe dúvidas, tragédias e absurdos no nosso caminho, para ver se vamos desistir ou continuar acreditamos.
Segundo uma linha teológica, Deus cria as imperfeições do mundo para testar a devoção dos santos. Num mundo sem pobres e aflitos, a caridade seria um desperdício, amor pela humanidade um sentimento banal e a Madre Teresa apenas uma simpatia, e anômio, velhinha. É para por à prova a fé que existe o sofrimento. Cada boa alma é desafiada a continuar boa e dedicada ao próximo e a Deus, por mais repugnante que seja o defeito do próximo e misteriosas as razões de Deus. É um pouco assim com a democracia. Todas as tentações que temos para desesperar da democracia são, na verdade, desafios para a nossa convicção democrática. Testes para a nossa fé.
Alguém já disse que as mensagens do Bush para os povos do Oriente Médio, exortando - os a adotarem a democracia, seriam mais convincentes se não trouxessem, implícita outra mensagem;" Vocês também podem acabar com alguém como eu na presidência" o que estaria causando alguma hesitação entre os povos. Aqui a eleição de Lula teria provocado reação parecida em certos círculos fortemente democráticos, agora hesitantes. Gente que diz " está certo, o bonito de uma democracia é que qualquer um pode chegar à presidência, mas não qualquer um pó!" Enfim, são convicções sendo testadas. como Deus, a democracia também põe dúvidas, tragédias e absurdos no nosso caminho, para ver se vamos desistir ou continuar acreditando.
É por isso que devemos aceitar todos os recém - eleitos num espírito de exaltação. Ladrões e loucos, renegados e ressuscitados, coitados e condenados, todos. São eles que revigoram nossa fé democrática, na medida em que apesar de tudo não desesperamos.
O Maluf e o Clodovil foram os mais votados em São Paulo? Uma confiança na democracia que resiste a isto jamais se abalará. Vi a entrevista em que o Clodovil dizia que não tinha a menor ideia do que iria fazer em Brasília, mas que faria com estilo, quase em transe religioso. Por pouco não abrir uma janela e gritei para o céu. Eu crio! Eu creio!
E voltei para me prostar diante da televisão. Devemos amar a pessoa mais importante como os santos amam os miseráveis, pois sinto é a prova da nossa virtude e da nossa revolução. A democracia jamais nos afastará delas. Por mais que tente.
Luis Fernando Veríssimo - Jornal do Vale paraibano dia ( 08-10-2006)

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