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domingo, 25 de julho de 2010

O DESAFIO DA ESCOLA

A escola de hoje reconhecem e aceitou o desafio de ensinar o compulsório da vida para todas as crianças e adolescentes.

O que ela precisa mudar para se capaz de ensinar a todas as crianças


PARA TODOS: O que a escola precisa mudar para ser compulsória? Responder a essa pergunta supõe que, como mínimo, refletir sobre o lugar sociocultural da escola " ontem " e "hoje".

A pergunta em si mesma já expressa essa hipótese porque sugere que a escola de ontem não era compulsória e que a de hoje quer sê-lo. Por que a escola de ontem não era? Por que a de hoje deve ser?

Consideremos que, em certo sentido, a escoa sempre foi compulsória. Foi nela que que sempre se depositou a esperança e a confiança no desenvolvimento e na aprendizagem dos alunos daquilo que é compulsório para todos nós, não só na escola, mais na vida em geral. Amar ao próximo como a si mesmo, ser digno, comprometido, responsável e tantos outros valores são "compulsórios" a uma certa visão de ser humano. Sem eles, predominaram a barbárie e a violência. Classificar, selecionar, ordenar, fazer inferências, observar, comparar, quantificar, concluir, fazer escolhas, tomar decisões, antecipar, corrigir e tantas outras "ferramentas" cognitivas são habilidades consideradas compulsórias ao ser humano. Sem elas, nossa sobrevivência, nosso passado, presente ou futuro ficariam extremamente prejudicados e sujeitos a toda sorte de manipulações. Trabalhar em grupo, cooperar, argumentar, compartilhar tarefas, construir coisas, divertir-se, criar, desfrutar a vida e tantas outras realizações sociais são compulsórias ao ser humano. Sem elas, a vida restaria sem sentido.

Os domínios lembrados entre tantos outros não são privilégio da escola, tanto assim que culturas " não - escolares" os desenvolvem, inclusive de modo bastante complexo. O fato é que, em nossa sociedade, atribuiu-se à escola um lugar fundamental para o desenvolvimento dessas aquisições, sobretudo em crianças e adolescentes. Em resumo, se há coisas compulsórias é´porque são melhores para o ser humano e, se a escola compromete-se com seu desenvolvimento, ela também se torna compulsória, ao menos quanto aos conteúdos que pretende ensinar.

O problema da escola compulsória de " ontem " é que era destinada para poucos alunos. Ela se restringia àqueles que tinham condições ( financeiras, cognitivas, sociais, culturais, afetivas, biológicas, religiosas) de ingressar ou permanecer nela, porque atendiam aos seus pré-requisitos ou pressupostos. Os outros, a grande maioria, não ingressavam ou não ficavam mais do que alguns anos, o que só confirmava sua falta de condições para desenvolver na escola os conteúdos acima mencionados. Em outras palavras, a escola sempre foi compulsória, porque está comprometida em desenvolver bem o que é compulsório a uma vida digna e plena, mas antes ela só se permitia fazer isso com os poucos alunos que tinham condições para atender aos seus critérios. A escola de "hoje" reconheceu e aceitou o desafio de ensinar o compulsório da vida para todas as crianças e adolescentes. O que ela precisa mudar para ser compulsória nesse segundo sentido, ou seja, ser capaz de ensinar a todas as crianças?

Para responder a essa pergunta, penso que são importantes duas considerações. Primeiro, a escola de "hoje" deve mudar a visão que a de "ontem" construir sobre si mesma. Segundo, a escola de "hoje" não pode esquecer em sua critica aquilo que continua valioso, apesar dos imensos desafios de sua consideração na atualidade.

De um lado, a escola, como qualquer instituição social, expressa os valores, as possibilidades e os interesses das pessoas de seu tempo. Sobretudo, daquelas que têm poder politico e econômico, que têm condições - "herdadas" ou "conquistadas" - para determinar o que julgam "melhor" para si mesmas e para os representantes de sua classe. Nesse ternos, talvez caibam duas perguntas: a quem a escola de ontem servia?^A quem servia escola de hoje? De outro lado, como comentei no início, a escola aceitou ser e de fato é depositaria daquilo que é fundamental ou compulsório a qualquer ser humano,mesmo que suas formas de expressão variem no espaço e no tempo.

A quem serve a escola? Para responder a essa pergunta, proponho que lembremos, ainda que superficialmente, três modos de ser de nossa sociedade nos últimos séculos. O primeiro deles é o da sociedade produtora, isto é, comprometida com a fabricação de bens duráveis, resistentes.

Sólidos também são seus valores, seus compromissos e suas relações de trabalho. É a sociedade que preza o emprego e o casamento para toda a vida, que valoriza a família com muitos filhos, os quais estendem e aprofundam a herança e os valores de seus pais. Não importa que o trabalho vire rotina, que produzir seja mais um reproduzir, um fazer sempre igual, que o casamento não faça sentido e que se sustente por interesses externos ou pelo medo de mudança. Qual é a melhor escola para essa sociedade? Quem são os melhores alunos para ela? Quais conteúdos escolares ela deve privilegiar? Em sua lista, que competências e habilidades são requeridas de seus alunos?

Um segundo tipo de sociedade é a que valoriza o ter, o possuir recursos materiais a serem acumulados. E a sociedade que preza o capital, que divide as pessoas por suas posses. por seus bens materiais, por sua fortuna. Qual é a melhor escola para essa sociedade? Como ela prepara crianças e adolescentes para serem bem-sucedidos neste sistema? E as crianças que não têm condições materiais para frequentá- la, porque devem trabalhar, porque seus pais não podem ter nem têm livros em casa?

Um terceiro tipo de sociedade é a que valoriza o consumir, o desfrutar mais e mais os bens produzidos e sempre aperfeiçoados ou diversificados. E a sociedade que valoriza o instante,o substituível, o breve no tempo e o próximo no espaço, já que os recursos tecnológicos cada vez mais possibilitam isso. E a sociedade global, tecnológica, plena de invenções e descobertas. Possuidora de recursos que facilitam nossa vida, que "sustentam" a juventude de nosso corpo, que estendem nosso bem - estar e que nos provêem facilidades e possibilidades de consumo de todos os tipos. Uma sociedade que julga ter superado o pesado, o difícil, o que precisa ser consertado e apreendido de modo é a melhor escola para essa sociedade? Como ele deve preparar seus alunos? Quais competências e habilidades eles devem dominar para serem bem - sucedidos.?

Produzir, ter e consumir representam ações e valores que talvez resumam nossos principais esforços e êxitos dos últimos tempos. Não importa que cada vez mais menos pessoas tenham possibilidades para isso, que suas reais condições de fazer parte dessa classe sejam precárias, incertas e difíceis. Não importa os tipos de ansiedade, de sofrimento, de exclusão e de desigualdade social implicadas em nossos esforços para produzir, ter e consumir. O interessante é que essa mesma sociedade aprove leis e determine recursos a serem gastos em uma escola para todas as crianças. O interessante é que essa mesma sociedade reafirme o valor das coisas compulsórias para a nossa vida e que eleja a escola como o melhor lugar para que todas as crianças e adolescentes realizem essa iniciação.

Uma escola que aceita o compromisso de ser compulsória para todas as crianças deve valorizar a construção, a aquisição e o consumo de que coisas? O que deve ser reconstruído criança por criança, porque esse bem não pode ser comprado, nem está pronto para ser consumido? O que o dinheiro de um aluno não pode comprar e, portanto, permitir-lhe consumir fácil e imediata ente? O que está nos livros, no conhecimento ou no domínio dos adultos, encarnado nas ferramentas ou tecnologias, mas que precisa de novo ser inventado e descoberto, ou seja, reconstruído por todas as crianças? Essas coisas são as que listei no início deste artigo. E se elas são compulsórias é porque não podemos sintetizá-las nos objetos e nas pessoas que as possuem, pois necessitam ser reconstruídas segundo as possibilidades de cada criança.

Penso que os comentários feitos até aqui sugerem a importância de uma reflexão sobre a escola, agora na perspectiva da criança. Como distinguir e relacionar criança com aluno? Aluno é uma categoria sociológica ou pedagógica. Supõe dominar um "ofício", tornar-se parte de uma comunidade, qualificar-se para a realização de certas tarefas, dominar ou aceitar regras ( muitas delas implícitas) que possibilitam esse pertencimento. . Supõe sofrer as conseqüências de uma certa compreensão de sociedade, dos valores que a escola cultiva, dos recursos que dispõe e dos limites políticos de seus agentes para bancar seu projeto pedagógico. Ser criança, tornar-se aluno; esta é a exigência de hoje.

No entanto, ser aluno é uma coisa, enquanto tonar-se alfabetizado, por exemplo, é outra. Talvez possamos obrigar a uma criança a ser aluno, mas não podemos exigir que aprenda, porque isso supõe uma adesão afetiva e um desenvolvimento cognitivo que a condição de aluno não é suficiente para dar conta. Uma criança pode ser considerada aluno desde o momento em que se matricula na escola ou que a frequenta, mesmo que por pouco tempo.

O problema da escola compulsória de "ontem" é que era destinada para poucos, restringia - se àqueles que tinham condições de ingressar ou permanecer nela .

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