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terça-feira, 25 de outubro de 2011

A Visão Atual de Psicopedagogia e a Atuação do Professor

Maria Carvalho
Professora/psicopedagoga, historiadora, pesquisadora, especialista e com mestrado em psicopedagogia.

A psicopedagogia surgiu da necessidade de compreender o processo de aprendizagem. Para Kiguel, op. cit Bossa (1994, p. 7) “historicamente a Psicopedagogia surgiu na fronteira entre a Pedagogia e a Psicologia, a partir das necessidades de atendimento de crianças com distúrbios de aprendizagem”, consideradas inaptas dentro do sistema educacional convencional. Nesse sentido, a Psicopedagogia não pode ser considerada uma “Pedagogia melhorada, e sim a Pedagogia transformada, recriada. É uma nova área que se delineia como alternativa inovadora e profissional. Utiliza-se de recursos das variadas áreas do conhecimento, a psicopedagogia propõe-se a compreender o ato de conhecer, o de aprender e, consequentemente, o de ensinar” (MALUF 2005, p. 2) Ocupa-se, pois, da aprendizagem humana e está estruturando-se e situando-se para contribuir como recurso em diversas situações. A psicopedagogia está embasada em diversas teorias já que seu objeto de estudo é complexo. Assim, por exemplo, seu objeto de estudo abarca conhecimentos provenientes da psicanálise, da psicologia social, da epistemologia, da psicologia genética e da linguística, incidem sobre o seu objeto de estudo.

Como a psicopedagogia contempla noções de patologia e de etiologia dos problemas de aprendizagem, é possível que este ramo da ciência possa contribuir para a compreensão e esclarecimento dos sintomas relatados pelas professoras do Ensino Fundamental. Desse modo, vem ganhando espaço nas instituições escolares e expandindo seus benefícios no trabalho em clínicas particulares.

Bossa (1994) afirma que cabe ao psicopedagogo saber como o sujeito que aprende transforma-se em suas várias etapas da vida, quais os recursos de conhecimento de que dispõe, como produz conhecimento e como aprende. Essas informações contribuem para suscitar o progresso e o sucesso dos alunos que apresentam sintomas do “não-aprender”.
Ainda segundo Bossa (1994, p. 11), a psicopedagogia permite que se estude:
[...] as características da aprendizagem humana, como se aprende, como essa aprendizagem varia evolutivamente e está condicionada por vários fatores, como se produzem as alterações na aprendizagem, como reconhecê-las, tratá-las e preveni-las.

A atuação psicopedagógica relaciona-se, portanto, com o problema escolar e de aprendizagem, interferindo de forma individual ou grupal, conforme se apresenta o problema. Tratar e prevenir esses problemas de aprendizagem em classes de alfabetização pode amenizar um fato bastante comum ao final da primeira série, quando algumas crianças finalizam o ano letivo com um nível insuficiente de aprendizagem e, posteriormente, sempre repetem alguma série de Ensino Fundamental

Sisto (1996, p. 9) também amplia a área de atuação da psicopedagogia quando afirma que ela nos oferece, ao tratar dos problemas de aprendizagem, “[...] a possibilidade de analisar este processo do ponto de vista do sujeito que aprende e da instituição que ensina”.

A psicopedagogia é uma área de estudo diretamente relacionada à da aprendizagem escolar, tanto no que tange a seu decurso normal quanto às dificuldades que possa apresentar. É preciso que todos os envolvidos com o processo de aprendizagem analisem a situação, e não somente o aluno, que é uma das parcelas de um todo do conhecimento em construção uma vez que às vezes poder ser apresentar mais fácil ou mais difícil para quem ensina ou aprende.

Refletir psicopedagogicamente sobre os problemas de aprendizagem consiste em procurar compreender a forma como o aluno ou os alunos está utilizando os elementos do seu sistema cognitivo e emocional para aprender. Significa refletir também com as relações que se estabelecem entre aluno e conhecimento, as quais são interpostas pelo professor e pela escola.
Mais recentemente, o foco da análise da alfabetização tem se voltado para as abordagens cognitivas, sobretudo da Psicologia Genética de Piaget. Embora Piaget não tenha realizado pesquisas sobre a aprendizagem da leitura e da escrita, vários pesquisadores – a partir de seus estudos - têm estudado a alfabetização, entre esses, destaca-se Emília Ferreiro.

Mas, apesar, de todos os estudos realizados, ainda hoje a alfabetização tem sido considerada como processo de aquisição do código alfabético, em que a escrita representa a transcrição dos sons ou fonemas.
Nessa concepção de alfabetização e de processo de desenvolvimento, o aluno é considerado como aquele que não possui qualquer conhecimento, que deve estar pronto para receber as informações de como lidar com esse código, através de um professor que, detendo o conhecimento, restringe-se apenas a transmiti-lo.

A escola, deste ponto de vista, considera-se a guardiã de um objeto cultural, a linguagem escrita, tomando-a como algo estático e imutável, como um modelo a ser seguido, que exige do educando uma atitude de respeito diante deste objeto e que deve copiar e reproduzir fielmente, sem direito a modificações.

O professor alfabetizador

O trabalho do professor alfabetizador, conforme Ferreiro (1999, p. 21), tem-se centralizado na busca do método considerado melhor ou mais eficaz, centralizando uma polêmica em torno dos métodos sintético e analítico.

Os métodos sintéticos começam pela apresentação de elementos considerados simples (elementos sem nenhuma significação) e, por composição, vão alcançando as unidades significativas; os métodos analíticos partem das unidades com significado (palavras ou frases) que vão se decompondo progressivamente até alcançarem as unidades menores. Frente a essa dicotomia, muitos professores declaram que utilizam um método misto, que nada mais é do que uma mescla de elementos de um e de outro método. Essa forma tradicional leva a escola ver a alfabetização como uma vinculação entre os métodos utilizados e o estado de maturidade ou prontidão, a conceber a escrita como transcrição gráfica das unidades sonoras e a leitura como decodificação deste código. Essa realidade mostra um total desconhecimento dos professores e do processo de alfabetização.
De acordo com Moura (1999, p. 127).

Essas concepções e as formas de proceder baseadas nos métodos, desnudado as práticas escolares que são de certo modo responsáveis pelo fracasso das crianças, pela sua expulsão da escola, transformando-as em analfabetos funcionais que, no futuro, em alguns casos, transforma-se nos adultos que voltam à escola em busca do conhecimento não adquirido.

Além da utilização dos métodos, o livro didático é apresentado para o aluno como uma fonte de conhecimentos do mundo, ao invés de ser um dos objetos de conhecimento. As atividades de leitura e escrita, baseadas no livro didático, são totalmente desprovidas de sentido e totalmente alheias ao funcionamento da língua.
Para Moura (1999, p. 131):

À medida que o professor desconhece o processo de aquisição que constitui a alfabetização, as características dos sujeitos que aprendem, ele torna o processo mais difícil do que deveria ser, produzindo fracasso escolares desnecessários, transformando a experiência da alfabetização em uma experiência literalmente traumática.

Smolka (1988, p. 47), ao analisar a teoria psicopedagógica de Ferreiro, afirma que para esta autora o sistema de linguagem está em contraposição à concepção tradicional. Ela faz a distinção entre a escrita como sistema de representação da linguagem e a escrita como sistema de decodificação.
No primeiro caso, a escrita é concebida como um código de transcrição e a aprendizagem, como aquisição de uma técnica. Tem-se uma imagem pobre do sujeito que aprende, não se entende nem se considera as experiências que ele tem e muito menos as suas concepções sobre a escrita, nem se avalia o seu caminho evolutivo até chegar à produção da escrita.
No segundo caso, a escrita é entendida como um sistema de representação e, a aprendizagem se converte na apropriação de um novo objeto de conhecimento. Entende-se que o processo de evolução do sujeito em direção à apropriação da escrita é um processo complexo que se identifica com a própria história da construção da escrita pela humanidade.

Dessa forma, a alfabetização pressupõe uma distinção bem clara entre a apropriação de conhecimento de aprendizagem e uma técnica de decodificação, pois a alfabetização é um processo ativo de reconstrução por parte do aluno que não pode se apropriar verdadeiramente de um conhecimento senão quando puder compreender seu processo de construção.

O processo da aquisição da linguagem precede e excede os limites escolares. Por isso, o próprio aluno é o ponto de partida de toda aprendizagem. Este vive num mundo onde a escrita é fator presente nas ruas, permitindo que já se reflita sobre o processo. Enquanto a escrita é um sistema de representação da linguagem, a leitura é a interpretação. O fundamental na aprendizagem da “lecto-escrita” é a ação do aluno de pensar sobre o objeto do conhecimento.

Ferreiro e Teberosky (1985) caracterizaram três momentos pelos quais as crianças passam ao se apropriarem da concepção da escrita, do caminho percorrido pelas crianças durante o processo de alfabetização. A seguir será apresentada cada etapa ou nível, segundo a classificação desses autores.

Níveis do processo de alfabetização

01.Nível pré-silábico: não existe vinculação entre a escrita e a fala. O desenho é a representação mais forte nessa fase. Através de novas experiências, admite-se que a escrita é diferente do desenho. A criança precisa separar a escrita e o desenho, conhecer as letras, fazendo uma análise dos aspectos gráficos, topológicos, formais, posicionais, tipológicos (cursiva e de forma ou de forma e vernal ou ainda, cursiva e vernal). O objetivo é atingir a inovação das suas formas e a introdução do som através das letras iniciais de palavras significativas, bem como vivenciar a mesma palavra em diferentes contextos, diferenciando letras e números. Neste nível, a criança necessita associar palavra x objeto (imagem), fazendo uma memorização global de várias palavras, analisando-as quanto à letra inicial, final, número de letras, ordem e natureza das letras na palavra. E assim, na busca da criação de letras novas, as crianças aceitam e adotam para sua escrita à forma convencional da grafia.
Uma questão observada no decorrer da pesquisa de Ferreiro e Teberoski exemplifica muito bem esse nível. Ao realizar um desenho, um menino selecionado para observação individual, fazia registros sobre seu trabalho, escrevendo uma pequena frase. Sua escrita não apresentava vinculação entre a escrita e a fala e o número de letras (grafemas) não correspondiam necessariamente ao número de fonemas ou sílabas.

02.Nível silábico: nesta fase a criança considera que cada sílaba oral corresponde a uma letra, utilizando as vogais com o seu valor sonoro. A partir dessa fase, precisa perceber os vários sons na sílaba representados na escrita. A criança precisa confrontar a palavra memorizada globalmente e a hipótese silábica, fazendo a contagem do número de letras, desmembrando oralmente as sílabas e formulando hipóteses de repartição de palavras escritas.
Nessa fase, é importante estimular a pesquisa de palavras nos textos e nas frases, incluindo verbos, artigos e preposições, entre outros. O professor deve permitir a escrita silábica, mas questionar o aluno quanto a suas produções, para que perceba a diferença. Na mesma atividade, conforme exemplificam Ferreiro e Teberoski, a menina “Sava” – nome fictício -faz seu desenho e registra uma frase, onde já se percebe a preocupação com o valor sonoro e a relação uma letra para cada sílaba e as vogais em suas posições corretas na palavra pesquisada.

03.Nível alfabético: aqui já começa ficar claro para o aprendiz que a cada som oral corresponde quase que sempre uma letra. A criança não utiliza ainda uma ortografia totalmente padrão; ela precisa ser desafiada a avançar na ortografia e nas convenções específicas da língua escrita e ainda continuar o trabalho de conhecer a letra e seu valor sonoro. Nesse período, a criança necessita fazer uma análise quanto ao número de letras e sílabas nas palavras, bem como desmembrá-las em todas as suas sílabas e refazer a montagem das palavras por meio das sílabas. É importante estudar as sílabas que formam as palavras, ora trabalhando a primeira, ora a última, ora uma sílaba intermediária e classificar as palavras de acordo com o número de sílabas e de acordo com o número de letras. É importantíssima a produção e a leitura de textos individuais e coletivos, o reconhecimento de palavras e frases no texto, bem como a contagem de palavras, frases e espaços no texto.
Esse é outro ponto constatado nas observações de Ferreiro e Teberosky. Ao corrigir exercícios no quadro, a professora não faz uma leitura para uma melhor compreensão e interpretação. Os alunos simplesmente executam o que o exercício pede pela sua facilidade em interpretar, como, por exemplo, ligar desenhos iguais ou ligar uma palavra ao desenho.

Considerações finais

Evidentemente cada indivíduo é único e, assim, enquanto alguns apresentam maiores dificuldades em algum nível, outros passam direto do primeiro nível para o último. Tudo é uma questão individual de aprendizagem e de oportunidades de vivências, experiências significativas que auxiliem na aquisição da leitura e escrita. Se o professor souber compreender o progresso alcançado por cada um dos seus alunos estará contribuindo para solucionar e desmistificar os problemas de aprendizagem que se apresentam no processo de alfabetização, eliminando ou minimizando a repetência e a evasão.
Essas mudanças requerem novas atitudes em relação à compreensão dos sujeitos e do objeto da alfabetização. Exigem o entendimento de que a escrita não é um produto escolar, mas sim objeto cultural, resultado do esforço coletivo da humanidade e não uma utilização de técnicas e métodos que um sujeito reproduz. O processo de alfabetização, enquanto construção do conhecimento é uma tarefa crucial tanto para as crianças quanto para os professores.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOSSA, N. A. (1994) Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. Porto Alegre: Artes Médicas.
FERREIRO &TEBEROSKY, A. (1995) Psicogênese da Língua Escrita. Porto Alegre: Artes Médicas.
GARDNER, H. (1994). Estruturas da Mente: A Teoria das Inteligências Múltiplas, Porto Alegre: Artes, Médicas Sul Ltda.
-------- (1995). Inteligências Múltiplas: A Teoria na Prática, Porto Alegre: Artes Médicas Sul Ltda.
MALUF, M. I. (2005). Artigo: Preguiça Escolar ou Dificuldades de Aprendizagem? Jornal da Educação. Ano XVII. N. 184, junho.
MOURA, D. G. (1999). Dimensão Lúdica no Ensino de Ciências. Faculdade de Educação da USP.
SISTO, F. F. (1996) Contribuições do Construtivismo à Psicopedagogia. In: SISTO, Fermino Fernandes;
SMOLKA, L. K. A., A. L. B. A (1988) Criança na Fase Inicial da Escrita. São Paulo: UNICAMP

A Visão Atual de Psicopedagogia e a Atuação do Professor

Maria Carvalho
Professora/psicopedagoga, historiadora, pesquisadora, especialista e com mestrado em psicopedagogia.

A psicopedagogia surgiu da necessidade de compreender o processo de aprendizagem. Para Kiguel, op. cit Bossa (1994, p. 7) “historicamente a Psicopedagogia surgiu na fronteira entre a Pedagogia e a Psicologia, a partir das necessidades de atendimento de crianças com distúrbios de aprendizagem”, consideradas inaptas dentro do sistema educacional convencional. Nesse sentido, a Psicopedagogia não pode ser considerada uma “Pedagogia melhorada, e sim a Pedagogia transformada, recriada. É uma nova área que se delineia como alternativa inovadora e profissional. Utiliza-se de recursos das variadas áreas do conhecimento, a psicopedagogia propõe-se a compreender o ato de conhecer, o de aprender e, consequentemente, o de ensinar” (MALUF 2005, p. 2) Ocupa-se, pois, da aprendizagem humana e está estruturando-se e situando-se para contribuir como recurso em diversas situações. A psicopedagogia está embasada em diversas teorias já que seu objeto de estudo é complexo. Assim, por exemplo, seu objeto de estudo abarca conhecimentos provenientes da psicanálise, da psicologia social, da epistemologia, da psicologia genética e da linguística, incidem sobre o seu objeto de estudo.

Como a psicopedagogia contempla noções de patologia e de etiologia dos problemas de aprendizagem, é possível que este ramo da ciência possa contribuir para a compreensão e esclarecimento dos sintomas relatados pelas professoras do Ensino Fundamental. Desse modo, vem ganhando espaço nas instituições escolares e expandindo seus benefícios no trabalho em clínicas particulares.

Bossa (1994) afirma que cabe ao psicopedagogo saber como o sujeito que aprende transforma-se em suas várias etapas da vida, quais os recursos de conhecimento de que dispõe, como produz conhecimento e como aprende. Essas informações contribuem para suscitar o progresso e o sucesso dos alunos que apresentam sintomas do “não-aprender”.
Ainda segundo Bossa (1994, p. 11), a psicopedagogia permite que se estude:
[...] as características da aprendizagem humana, como se aprende, como essa aprendizagem varia evolutivamente e está condicionada por vários fatores, como se produzem as alterações na aprendizagem, como reconhecê-las, tratá-las e preveni-las.

A atuação psicopedagógica relaciona-se, portanto, com o problema escolar e de aprendizagem, interferindo de forma individual ou grupal, conforme se apresenta o problema. Tratar e prevenir esses problemas de aprendizagem em classes de alfabetização pode amenizar um fato bastante comum ao final da primeira série, quando algumas crianças finalizam o ano letivo com um nível insuficiente de aprendizagem e, posteriormente, sempre repetem alguma série de Ensino Fundamental

Sisto (1996, p. 9) também amplia a área de atuação da psicopedagogia quando afirma que ela nos oferece, ao tratar dos problemas de aprendizagem, “[...] a possibilidade de analisar este processo do ponto de vista do sujeito que aprende e da instituição que ensina”.

A psicopedagogia é uma área de estudo diretamente relacionada à da aprendizagem escolar, tanto no que tange a seu decurso normal quanto às dificuldades que possa apresentar. É preciso que todos os envolvidos com o processo de aprendizagem analisem a situação, e não somente o aluno, que é uma das parcelas de um todo do conhecimento em construção uma vez que às vezes poder ser apresentar mais fácil ou mais difícil para quem ensina ou aprende.

Refletir psicopedagogicamente sobre os problemas de aprendizagem consiste em procurar compreender a forma como o aluno ou os alunos está utilizando os elementos do seu sistema cognitivo e emocional para aprender. Significa refletir também com as relações que se estabelecem entre aluno e conhecimento, as quais são interpostas pelo professor e pela escola.
Mais recentemente, o foco da análise da alfabetização tem se voltado para as abordagens cognitivas, sobretudo da Psicologia Genética de Piaget. Embora Piaget não tenha realizado pesquisas sobre a aprendizagem da leitura e da escrita, vários pesquisadores – a partir de seus estudos - têm estudado a alfabetização, entre esses, destaca-se Emília Ferreiro.

Mas, apesar, de todos os estudos realizados, ainda hoje a alfabetização tem sido considerada como processo de aquisição do código alfabético, em que a escrita representa a transcrição dos sons ou fonemas.
Nessa concepção de alfabetização e de processo de desenvolvimento, o aluno é considerado como aquele que não possui qualquer conhecimento, que deve estar pronto para receber as informações de como lidar com esse código, através de um professor que, detendo o conhecimento, restringe-se apenas a transmiti-lo.

A escola, deste ponto de vista, considera-se a guardiã de um objeto cultural, a linguagem escrita, tomando-a como algo estático e imutável, como um modelo a ser seguido, que exige do educando uma atitude de respeito diante deste objeto e que deve copiar e reproduzir fielmente, sem direito a modificações.

O professor alfabetizador

O trabalho do professor alfabetizador, conforme Ferreiro (1999, p. 21), tem-se centralizado na busca do método considerado melhor ou mais eficaz, centralizando uma polêmica em torno dos métodos sintético e analítico.

Os métodos sintéticos começam pela apresentação de elementos considerados simples (elementos sem nenhuma significação) e, por composição, vão alcançando as unidades significativas; os métodos analíticos partem das unidades com significado (palavras ou frases) que vão se decompondo progressivamente até alcançarem as unidades menores. Frente a essa dicotomia, muitos professores declaram que utilizam um método misto, que nada mais é do que uma mescla de elementos de um e de outro método. Essa forma tradicional leva a escola ver a alfabetização como uma vinculação entre os métodos utilizados e o estado de maturidade ou prontidão, a conceber a escrita como transcrição gráfica das unidades sonoras e a leitura como decodificação deste código. Essa realidade mostra um total desconhecimento dos professores e do processo de alfabetização.
De acordo com Moura (1999, p. 127).

Essas concepções e as formas de proceder baseadas nos métodos, desnudado as práticas escolares que são de certo modo responsáveis pelo fracasso das crianças, pela sua expulsão da escola, transformando-as em analfabetos funcionais que, no futuro, em alguns casos, transforma-se nos adultos que voltam à escola em busca do conhecimento não adquirido.

Além da utilização dos métodos, o livro didático é apresentado para o aluno como uma fonte de conhecimentos do mundo, ao invés de ser um dos objetos de conhecimento. As atividades de leitura e escrita, baseadas no livro didático, são totalmente desprovidas de sentido e totalmente alheias ao funcionamento da língua.
Para Moura (1999, p. 131):

À medida que o professor desconhece o processo de aquisição que constitui a alfabetização, as características dos sujeitos que aprendem, ele torna o processo mais difícil do que deveria ser, produzindo fracasso escolares desnecessários, transformando a experiência da alfabetização em uma experiência literalmente traumática.

Smolka (1988, p. 47), ao analisar a teoria psicopedagógica de Ferreiro, afirma que para esta autora o sistema de linguagem está em contraposição à concepção tradicional. Ela faz a distinção entre a escrita como sistema de representação da linguagem e a escrita como sistema de decodificação.
No primeiro caso, a escrita é concebida como um código de transcrição e a aprendizagem, como aquisição de uma técnica. Tem-se uma imagem pobre do sujeito que aprende, não se entende nem se considera as experiências que ele tem e muito menos as suas concepções sobre a escrita, nem se avalia o seu caminho evolutivo até chegar à produção da escrita.
No segundo caso, a escrita é entendida como um sistema de representação e, a aprendizagem se converte na apropriação de um novo objeto de conhecimento. Entende-se que o processo de evolução do sujeito em direção à apropriação da escrita é um processo complexo que se identifica com a própria história da construção da escrita pela humanidade.

Dessa forma, a alfabetização pressupõe uma distinção bem clara entre a apropriação de conhecimento de aprendizagem e uma técnica de decodificação, pois a alfabetização é um processo ativo de reconstrução por parte do aluno que não pode se apropriar verdadeiramente de um conhecimento senão quando puder compreender seu processo de construção.

O processo da aquisição da linguagem precede e excede os limites escolares. Por isso, o próprio aluno é o ponto de partida de toda aprendizagem. Este vive num mundo onde a escrita é fator presente nas ruas, permitindo que já se reflita sobre o processo. Enquanto a escrita é um sistema de representação da linguagem, a leitura é a interpretação. O fundamental na aprendizagem da “lecto-escrita” é a ação do aluno de pensar sobre o objeto do conhecimento.

Ferreiro e Teberosky (1985) caracterizaram três momentos pelos quais as crianças passam ao se apropriarem da concepção da escrita, do caminho percorrido pelas crianças durante o processo de alfabetização. A seguir será apresentada cada etapa ou nível, segundo a classificação desses autores.

Níveis do processo de alfabetização

01.Nível pré-silábico: não existe vinculação entre a escrita e a fala. O desenho é a representação mais forte nessa fase. Através de novas experiências, admite-se que a escrita é diferente do desenho. A criança precisa separar a escrita e o desenho, conhecer as letras, fazendo uma análise dos aspectos gráficos, topológicos, formais, posicionais, tipológicos (cursiva e de forma ou de forma e vernal ou ainda, cursiva e vernal). O objetivo é atingir a inovação das suas formas e a introdução do som através das letras iniciais de palavras significativas, bem como vivenciar a mesma palavra em diferentes contextos, diferenciando letras e números. Neste nível, a criança necessita associar palavra x objeto (imagem), fazendo uma memorização global de várias palavras, analisando-as quanto à letra inicial, final, número de letras, ordem e natureza das letras na palavra. E assim, na busca da criação de letras novas, as crianças aceitam e adotam para sua escrita à forma convencional da grafia.
Uma questão observada no decorrer da pesquisa de Ferreiro e Teberoski exemplifica muito bem esse nível. Ao realizar um desenho, um menino selecionado para observação individual, fazia registros sobre seu trabalho, escrevendo uma pequena frase. Sua escrita não apresentava vinculação entre a escrita e a fala e o número de letras (grafemas) não correspondiam necessariamente ao número de fonemas ou sílabas.

02.Nível silábico: nesta fase a criança considera que cada sílaba oral corresponde a uma letra, utilizando as vogais com o seu valor sonoro. A partir dessa fase, precisa perceber os vários sons na sílaba representados na escrita. A criança precisa confrontar a palavra memorizada globalmente e a hipótese silábica, fazendo a contagem do número de letras, desmembrando oralmente as sílabas e formulando hipóteses de repartição de palavras escritas.
Nessa fase, é importante estimular a pesquisa de palavras nos textos e nas frases, incluindo verbos, artigos e preposições, entre outros. O professor deve permitir a escrita silábica, mas questionar o aluno quanto a suas produções, para que perceba a diferença. Na mesma atividade, conforme exemplificam Ferreiro e Teberoski, a menina “Sava” – nome fictício -faz seu desenho e registra uma frase, onde já se percebe a preocupação com o valor sonoro e a relação uma letra para cada sílaba e as vogais em suas posições corretas na palavra pesquisada.

03.Nível alfabético: aqui já começa ficar claro para o aprendiz que a cada som oral corresponde quase que sempre uma letra. A criança não utiliza ainda uma ortografia totalmente padrão; ela precisa ser desafiada a avançar na ortografia e nas convenções específicas da língua escrita e ainda continuar o trabalho de conhecer a letra e seu valor sonoro. Nesse período, a criança necessita fazer uma análise quanto ao número de letras e sílabas nas palavras, bem como desmembrá-las em todas as suas sílabas e refazer a montagem das palavras por meio das sílabas. É importante estudar as sílabas que formam as palavras, ora trabalhando a primeira, ora a última, ora uma sílaba intermediária e classificar as palavras de acordo com o número de sílabas e de acordo com o número de letras. É importantíssima a produção e a leitura de textos individuais e coletivos, o reconhecimento de palavras e frases no texto, bem como a contagem de palavras, frases e espaços no texto.
Esse é outro ponto constatado nas observações de Ferreiro e Teberosky. Ao corrigir exercícios no quadro, a professora não faz uma leitura para uma melhor compreensão e interpretação. Os alunos simplesmente executam o que o exercício pede pela sua facilidade em interpretar, como, por exemplo, ligar desenhos iguais ou ligar uma palavra ao desenho.

Considerações finais

Evidentemente cada indivíduo é único e, assim, enquanto alguns apresentam maiores dificuldades em algum nível, outros passam direto do primeiro nível para o último. Tudo é uma questão individual de aprendizagem e de oportunidades de vivências, experiências significativas que auxiliem na aquisição da leitura e escrita. Se o professor souber compreender o progresso alcançado por cada um dos seus alunos estará contribuindo para solucionar e desmistificar os problemas de aprendizagem que se apresentam no processo de alfabetização, eliminando ou minimizando a repetência e a evasão.
Essas mudanças requerem novas atitudes em relação à compreensão dos sujeitos e do objeto da alfabetização. Exigem o entendimento de que a escrita não é um produto escolar, mas sim objeto cultural, resultado do esforço coletivo da humanidade e não uma utilização de técnicas e métodos que um sujeito reproduz. O processo de alfabetização, enquanto construção do conhecimento é uma tarefa crucial tanto para as crianças quanto para os professores.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOSSA, N. A. (1994) Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. Porto Alegre: Artes Médicas.
FERREIRO &TEBEROSKY, A. (1995) Psicogênese da Língua Escrita. Porto Alegre: Artes Médicas.
GARDNER, H. (1994). Estruturas da Mente: A Teoria das Inteligências Múltiplas, Porto Alegre: Artes, Médicas Sul Ltda.
-------- (1995). Inteligências Múltiplas: A Teoria na Prática, Porto Alegre: Artes Médicas Sul Ltda.
MALUF, M. I. (2005). Artigo: Preguiça Escolar ou Dificuldades de Aprendizagem? Jornal da Educação. Ano XVII. N. 184, junho.
MOURA, D. G. (1999). Dimensão Lúdica no Ensino de Ciências. Faculdade de Educação da USP.
SISTO, F. F. (1996) Contribuições do Construtivismo à Psicopedagogia. In: SISTO, Fermino Fernandes;
SMOLKA, L. K. A., A. L. B. A (1988) Criança na Fase Inicial da Escrita. São Paulo: UNICAMP

RESUMO

A Psicopedagogia nasceu de uma necessidade: contribuir na busca de soluções para a difícil questão do problema de aprendizagem. Enquanto prática clínica, tem-se transformado em campo de estudos para investigadores interessados no processo de construção do conhecimento e nas dificuldades que se apresentam nessa construção. Como prática preventiva, busca construir uma relação saudável com o conhecimento, de modo a facilitar a sua construção. No momento, a validade da Psicopedagogia, como um corpo teórico organizado, não lhe assegura a qualidade de saber científico, devendo-se fazer realmente ainda muito no sentido de ela sair da esfera da empírica e poder vir a estruturar-se como tal. O termo psicopedagogia distingue-se em três conotações: como uma prática, como um campo de investigação do ato de aprender e como (pretende-se) um saber científico. Esse termo, por vezes, na literatura, é tratado como sinônimo de outros. De acordo com Maria Regina Maluf (1991), "a literatura atual permite que sejam tratados como equivalentes as denominações Psicologia Educacional, Psicologia Escolar e Psicopedagogia". Segundo essa autora, os objetos de estudo não apresentam diferenças que justifiquem serem tratados como áreas discretas, pois "há entre elas uma unidade, embora não propriamente a mesma identidade" (1991, p. 4). Afirma também M. R. Maluf que, do ponto de vista da atuação profissional, o psicólogo educacional, o psicólogo escolar e o psicopedagogo desempenham papéis semelhantes (cf. Maluf, 1991).É possível observar, que nem sempre a formação, como ocorre no Brasil, prepara o aluno para uma prática consistente, a qual requer grande conhecimento teórico e compromisso social, implícito na tarefa a que o psicopedagogo se propõe. Tal prática se baseia em conhecimentos de diversas áreas: Psicologia da Aprendizagem, Psicologia Genética, Teorias da Personalidade, Pedagogia, fundamentos de Biologia, fundamentos de Lingüística, fundamentos de Sociologia, fundamentos de Filosofia, fundamentos de Atendimento Psicopedagógico. Conhecimentos específicos dessas áreas, articulados, alicerçam a prática psicopedagógica.O compromisso do psicopedagogo é com a transformação da nossa realidade escolar, e só através do exercício reflexivo superaremos os obstáculos que se nos impõem

1. INTRODUÇÃO

O problema trabalhado nesta monografia é o que leva o aluno ao fracasso escolar e Quais são os causadores do fracasso escolar? A pesquisa bibliográfica é a metodologia usada nesta monografia.Tendo como objetivo Analisar os conhecimentos teóricos objetivando entender alguns elementos sobre o funcionamento comportamental e cognitivo da pessoa humana na fase de seu desenvolvimento, afim de melhor compreende – lá., tem ainda como objetivo compreender as diferentes situações do fracasso escolar. Através de aspectos físicos, químicos e psicológicos que levam a alteração de comportamento e por fim Analisar os fatores que influenciam no fracasso escolar.

Na atualidade, várias pesquisas têm sido realizadas na busca de compreender o fracasso escolar na alfabetização tendo em vista os problemas que a leitura e a escrita apresentam à educação (PATTO, 1996; MICOTTI, 1987; SCOZ, 1994). Essas pesquisas indicam a existência de problemas no processo de ensino-aprendizagem da linguagem na primeira série, isto é, problemas relativos à alfabetização, pois é na primeira série que normalmente ocorre à alfabetização.

O educando chega à escola com um grande número de experiências, de aprendizagens que são ignoradas pelo professor, pois mesmo antes de ingressar na escola a criança já possui inúmeras vivências que deveriam servir como ponto de partida das atividades do professor.A criança, mesmo não reconhecendo os símbolos do alfabeto, já "lê" o seu meio, estabelecendo relações entre significante e significado. A escola deve dar continuidade a esse processo defendendo a livre expressão da criança, pois com isso o educando enfrentará com mais tranqüilidade a grande aventura do primeiro ano escolar: aprender a ler e escrever.

Nesse sentido, é necessário que os educadores tenham conhecimentos que lhes possibilitem compreender sua prática e os meios necessários para promoverem o progresso e o sucesso dos alunos. Uma das maneiras de se chegar a isso é através das contribuições que a Psicopedagogia proporciona, pois é a área que estuda e lida com o processo da aprendizagem e com os problemas dele decorrentes. Sua nova visão vem sendo apresentada pela Psicopedagogia e vem ganhando espaço nos meios educacionais brasileiros, despertando o interesse dos profissionais que atuam nas escolas e buscam subsídios para sua prática.

O interesse em pesquisar a forma como a intervenção psicopedagógica pode contribuir para a prevenção do fracasso escolar na alfabetização é devido à desatenção que tem sofrido o ensino da leitura e da escrita, e o baixo rendimento escolar, nas primeiras séries do Ensino Fundamental; e como também, devido à importância do trabalho psicopedagógica preventivo que se baseia principalmente na observação e análise profunda de uma situação concreta, no sentido de detectar possíveis perturbações no processo de aprendizagem promovendo orientações didático-metodológicas de acordo com as características dos indivíduos e grupos.

2.FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Tendo como princípio a atuação ímpar do professor na formação do cidadão freqüentador de uma unidade de aprendizagem: a escola, a questão da aprendizagem pode passar pela questão de entender a relação professor-aluno e a representação que o primeiro tem em relação ao segundo. Este estudo procura contribuir com reflexões para que seja possível uma revisão e reciclagem de práticas e metodologias que indique um caminho inverso ao universo da mídia: a afetividade e a atuação de um jovem criativo, executor de obras sociais. O intuito principal é auxiliar este jovem a canalizar energias para sua autonomia e construção de uma identidade cidadã saudável.

Tomando como base que a Psicopedagogia tem como objeto de estudo o aprender, preocupando-se no seu surgimento com as questões relacionadas aos déficits de aprendizagem, torna-se um suporte rico de contribuição neste trabalho. A preocupação principal da Psicopedagogia é o aprendizado do ser humano, integrando o cognitivo e o afetivo para realizar o processo como um todo.Para fazer uma junção do nome propriamente dito, teremos: “Pedagogia” que se preocupa mais com o conhecimento cognitivo e intelectual; e a “Psicologia” que está voltada para a busca do bem estar do indivíduo. Então temos a psicopedagogiaque relaciona a capacidade do aluno de se sentir competente no seu aprendizado, relacionando-o com prazer.

A Psicopedagogia dos conteúdos na sala de aula revoluciona a inter-relação professor-aluno. Se de um lado o aluno é visto de um modo integrativo e participa da construção do conhecimento, de outro é indispensável uma transformação na postura do professor. É importante que o educador tenha os cuidados necessários para permitir que a autonomia do educando avance sem que ele, educador, se sinta ameaçado e não exija mais que o aluno pode dar. Ao facilitar e organizar o processo produtivo de aprendizagem o educador deve assegurar a todos a prática e vivência, a possibilidade de observar e construir o conhecimento.

O trabalho psicopedagógico atua não só no interior do aluno ao sensibilizar para construção do conhecimento, levando em consideração os desejos do aluno, mas requer também uma transformação interna do professor. Para que o professor se torne um elemento facilitador que leve o educando ao desenvolvimento da autopercepção, percepção do mundo e do outro, integrando as três dimensões, deve estar aberto e atento para lidar com questões referentes ao respeito mútuo, relações de poder, limites e autoridade. Quando se fala da profissão professor, não se pode deixar de enfatizar a “Influência do Professor e do ambiente escolar” na vivência dos alunos.A seriedade profissional do professor se manifesta quando compreende o seu papel de instrumentalizar dos alunos para a conquista dos conhecimentos e sua aplicação na vida prática; incute-lhes a importância do estudo na superação das suas condições de vida; mostra-lhes a importância do conhecimento das lutas dos trabalhadores, orienta-os positivamente para as tarefas da vida adulta. Tais propósitos devem ser concretizados na prática, através de aulas planejadas nas quais se evidenciem a segurança nos conteúdos e nos métodos de ensino; a constância e firmeza no cumprimento das exigências escolares pelos alunos; o respeito no relacionamento com os alunos.

O paradigma de que o professor ao mesmo tempo em que não deve contemporizar com a negligência e com o descumprimento dos deveres, deve estar atento para o bem relacionamento humano com os alunos. O respeito se manifesta, pois, no senso de justiça, no verdadeiro interesse pelo crescimento do aluno, no uso de uma linguagem compreensível, no apoio às suas dificuldades, nas atitudes firmes e serenas.

O ambiente escolar pode exercer, também um efeito estimulador para o estudo ativo dos alunos. Os professores precisam procurar unir-se a direção da escola e aos pais para tornar a escola um lugar agradável e acolhedor.

Uma das poucas alegrias da vida numa época de ansiedade é o fato de sermos forçados a tomar consciência de nós mesmos. Quando a sociedade contemporânea, nesta fase de reversão de padrões e valores, não consegue dar-nos uma nítida visão “do que somos e do que devemos ser”, vemos lançados à busca de nós mesmos. A dolorosa insegurança que nos rodeia torna-se um incentivo a indagar: será que nos passou despercebido algum manancial de força e orientação?De modo geral prefere-se indagar: como é possível alcançar a integração interior numa sociedade tão desintegrada? Ou então: como empreender a longa evolução para a auto-realização numa época em que quase nada é certo, nem no presente, nem no futuro?

Gente muito preocupada tem ponderado tais questões. O psicoterapeuta não possui respostas mágicas. A nova luz que a psicologia profunda lança sobre os motivos ocultos dos nossos pensamentos, sentimentos e ações será de grande ajuda, sem dúvida alguma, na busca do próprio eu. Mas existe algo além dos conhecimentos técnicos e compreensão pessoal que anima o sujeito a aventurar-se até onde os anjos temem pisar e apresentar suas idéias e experiências sobre as difíceis questões da vida.

Observando a história da humanidade, podem perceber que hoje, mais do que nunca, o processo de desenvolvimento está centrado na aquisição do conhecimento e marcado por grandes transformações. Atualmente a humanidade vivencia grandes avanços tecnológicos que possibilitam a ocorrência acelerada de novas pesquisas e descobertas. Para acompanhar esse processo de mudanças a aquisição do conhecimento torna-se imprescindível.

Além disso, viver a era da integração em todos os setores do planeta, que se expressa de maneira mais ampla, pelo fenômeno da globalização. Percebemos que em todos os níveis e nas diferentes áreas de atuação existe um grande anseio, uma busca constante pela integração. Esse movimento é pouco explicitado, mas percebe-se que está presente em estado latente na maioria de nós.

A descoberta de nosso potencial permite não só o reconhecimento de nossa capacidade de autoria, mas também cria condições para a abertura de espaços onde outros se reconheçam autores. Para isso não há mágica. Com certeza a origem dessas mudanças passa pela educação. Recentemente, várias mudanças curriculares têm sido realizadas propondo educar o indivíduo para torná-lo cidadão. Tais medidas significam um avanço. Entretanto, essas medidas só serão bem sucedidas se forem acompanhadas de um trabalho com os indivíduos aprendentes que habitam em cada ensinante. Ou seja, com os educadores responsáveis pelas linhas de frente da educação.

Neste sentido a escola deve ser um espaço de promoção da articulação da realidade interna e externa do aprendiz, tornando a educação e a formação como um trabalho de duas questões indissociáveis. Uma das tarefas da escola é desenvolver a habilidade de negociação e a convivência pacífica, como algo imprescindível em um mundo globalizado. A escola deve trabalhar o autoconhecimento como possibilidade de abertura para o desenvolvimento da autonomia e da capacidade de julgamento.

A tônica desses princípios é o compromisso com a cidadania exigindo, para isso, educadores críticos da realidade e uma escola que não seja apenas reprodutora das relações de trabalho, mas que possibilite o desenvolvimento do autoconhecimento dos educadores, a fim de que construam relações de autonomia. Esses princípios enfatizam em igual medida as áreas convencionais no que se refere ao domínio das disciplinas; a dimensão social, no que se refere aos valores e atitudes; a dimensão pessoal, no que se refere aos afetos, sentimentos e preferências dos indivíduos.

A concretização desses princípios exige um investimento de possibilidades de aprender a aprender de alunos e educadores. Para isso, a escola necessita de um espaço onde os educadores possam recriar a si mesmos como aprendentes, sentindo-se autores de seus próprios pensamentos e, conseqüentemente, capazes de ensinar e aprender.

Esses fatos, aliados ao contexto global explicam a importância crescente da psicopedagogia, que na sua concepção atual, já nasce com uma perspectiva globalizadora condizente com os rumos da aprendizagem na atualidade. Ela ocupa um lugar privilegiado porque justamente não está em um único lugar, sua força está justamente localizada no poder transitar pelas fendas, pelos espaços entre objetividade/subjetividade – ensinante/aprendente.

De acordo com CIAMPA (1998), num primeiro momento somos levados a ver a identidade como um traço estatístico que define o ser. Como algo que aparece isoladamente, imutável, estático.A partir dessas considerações, penso que a Construção da Identidade é uma Questão de Aprendizagem. Precisamos sempre nos perguntar quem queremos ser a partir da possibilidade de aprender. Quando perguntamos quem queremos ser, essa pergunta sem uma resposta prévia, pode nos assustar. Entretanto, como futuros profissionais psicopedagogos, não podemos nos esquecer que a força da Psicopedagogia é justamente poder perguntar sobre seu próprio objeto, porque a Psicopedagogia trata do aprender e aprender implica perguntar e perguntar-se.

Parece então necessário e saudável que a Psicopedagogia como outra área de conhecimento ligada com a subjetividade do “Ser – Humano” esteja sempre aberta para perguntar sobre sua identidade, considerando os conhecimentos adquiridos, o presente e o futuro, enfim, o desejo de se transformar, de continuar crescendo.

2.1. EMBASAMENTO DO TRABALHO PSICOPEDAGÓGICO

O termo psicopedagogia apresenta-se, hoje, com uma característica especial. Quanto mais tentamos elucidá-lo, menos claro ele nos parece. Como diz Lino Macedo (1992), "o termo já foi inventado e assinala de forma simples e direta uma das mais profundas e importantes razões da produção de um conhecimento científico: o de ser meio, o de ser instrumento, para um outro, tanto em uma perspectiva teórica ou aplicada". Neste sentido, enquanto produção de conhecimento científico, a Psicopedagogia, que nasceu da necessidade de uma melhor compreensão do processo de aprendizagem, não basta como aplicação da Psicologia à Pedagogia. Macedo lembra-nos, ainda, que no Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, é definido como "aplicação da psicologia experimental à pedagogia"(1992,p. VII).Para Maria M. Neves, a psicopedagogia inicialmente foi utilizada como adjetivo, indicando uma forma de atuação que apontava a inevitável interseção dos campos do conhecimento da Psicologia e Pedagogia. Posteriormente a Psicopedagogia assumiu uma conotação substantiva, o que por um lado correspondeu a uma aplicação conceitual e, por outro, causou um lamentável estado de confusão, devido à utilização de toda uma polissemia aplicada a um só termo.

Para Kiguel, "historicamente a Psicopedagogia surgiu na fronteira entre a Pedagogia e Psicologia, a partir das necessidades de atendimentos de crianças com ‘distúrbios de aprendizagem’, consideradas inaptas dentro do sistema educacional convencional" (1991, p. 22). " Os fatores etiológicos utilizados para explicar índices alarmantes do fracasso escolar envolviam quase que exclusivamente fatores individuais como desnutrição, problemas neurológicos, psicológicos, etc. "No Brasil, particularmente durante a década de 70, foi amplamente difundido o rótulo de Disfunção Cerebral Mínima para as crianças que apresentavam, como sintoma proeminente, distúrbios na escolaridade.Se a (in)definição do termo psicopedagogia produz um estado de confusão conforme afirma Neves, vejamos qual é a definição do objeto de estudo da Psicopedagogia segundo alguns psicopedagogos brasileiros.

Para Kiguel, "o objeto central de estudo da Psicopedagogia está se estruturando em torno do processo de aprendizagem humana: seus padrões evolutivos normais e patológicos – bem como a influência de meio (família, escola, sociedade) no seu desenvolvimento" (1991, p. 24). De acordo com Neves, "a psicopedagogia estuda o ato de aprender e ensinar, levando sempre em conta as realidades interna e externa da aprendizagem, tomadas em conjunto. E, mais, procurando estudar a construção do conhecimento em toda a sua complexidade, procurando colocar em pé de igualdade os aspectos cognitivos, afetivos e sociais que lhe estão implícitos" (1991, p. 12).

Segundo Scoz, "a psicopedagogia estuda o processo de aprendizagem e suas dificuldades, e numa ação profissional deve englobar vários campos do conhecimento, integrando-os e sintetizando-os"(1992,p.2) Para Golbert: (...) o objeto de estudo da Psicopedagogia deve ser entendido a partir de dois enfoques: preventivo e terapêutico. O enfoque preventivo considera o objeto de estudo da Psicopedagogia o ser humano em desenvolvimento enquanto educável. O enfoque terapêutico considera o objeto de estudo da psicopedagogia a identificação, análise, elaboração de uma metodologia de diagnóstico e tratamento das dificuldades de aprendizagem (1985, p. 13).

Para Rubinstein, "num primeiro momento a psicopedagogia esteve voltada para a busca e o desenvolvimento de metodologias que melhor atendessem aos portadores de dificuldades, tendo como objetivo fazer a reeducação ou a remediação e desta forma promover o desaparecimento do sintoma". E ainda, "a partir do momento em que o foco de atenção passa a ser a compreensão do processo de aprendizagem e a relação que o aprendiz estabelece com a mesma, o objeto da psicopedagogia passa a ser mais abrangente: a metodologia é apenas um aspecto no processo terapêutico, e o principal objetivo é a investigação de etiologia da dificuldade de aprendizagem, bem como a compreensão do processamento da aprendizagem considerando todas as variáveis que intervêm nesse processo" 91992, P. 103)

Do ponto de vista de Weiss, "a psicopedagogia busca a melhoria das relações com a aprendizagem, assim como a melhor qualidade na construção da própria aprendizagem de alunos e educadores" (1991, P. 6).Essas considerações sugerem há um certo consenso quanto ao fato de que ela deve ocupar-se em estudar a aprendizagem humana, porém é uma ilusão pensar que tal consenso nos conduza, a todos, a um único caminho. A concepção de aprendizagem é resultado de uma visão de homem, e é em razão desta que acontece a práxis psicopedagógica.Dos profissionais brasileiros supracitados, pudemos verificar que o tema aprendizagem ocupa-os e preocupa-os, sendo os problemas desse processo ( de aprendizagem) a causa e a razão da Psicopedagogia. Podemos observar esse pensamento traduzido nas palavras de profissionais argentinos como Alicia Fernandez, Sara Paín, Jorge Visca, Marina Müller, etc., que atuam na área e estão envolvidos no trabalho teórico. Para eles, "a aprendizagem com seus problemas" constitui-se no pilar-base da Psicopedagogia.

Segundo Jorge Visca, a Psicopedagogia, que inicialmente foi uma ação subsidiária da Medicina e da Psicologia, perfilou-se como um conhecimento independente e complementar, possuída de um objeto de estudo – o processo de aprendizagem – e de recursos diagnósticos, corretores e preventivos próprios.Atualmente, a Psicopedagogia trabalha com uma concepção de aprendizagem segundo a qual participa desse processo um equipamento biológico com disposições afetivas e intelectuais que interferem na forma de relação do sujeito com o meio, sendo que essas disposições influenciam e são influenciadas pelas condições socioculturais do sujeito e do seu meio.

Ao psicopedagogo cabe saber como se constitui o sujeito, como este se transforma em suas diversas etapas de vida, quais os recursos de conhecimento de que ele dispõe e a forma pela qual produz conhecimento e aprende. É preciso, também, que o psicopedagogo saiba o que é ensinar e o que é aprender; como interferem os sistemas e métodos educativos; os problemas estruturais que intervêm no surgimento dos transtornos de aprendizagem e no processo escolar.No trabalho clínico, conceber o sujeito que aprende como um sujeito epistêmico-epistemofílico implica procedimentos diagnósticos e terapêuticos que considerem tal concepção. Para isso, é necessária uma leitura clínica na qual, através da escuta psicopedagógica, se possa decifrar os processos que dão sentido ao observado e norteiam a intervenção.

De acordo com Alicia Fernández, necessitamos incorporar conhecimentos sobre o organismo, o corpo, a inteligência e o desejo, estando estes quatro níveis basicamente implicados no aprender. Considerando-se o problema de aprendizagem na interseção desses níveis, as teorias que ocupam da inteligência, do inconsciente, do corpo, separadamente, não conseguem resolvê-lo.Conhecer os fundamentos da Psicopedagogia implica refletir sobre as suas origens teóricas, ou seja, revisar velhos impasses conceptuais que subjazem na ação e na atuação da Pedagogia e da Psicologia no apreender do fenômeno educativo.

Do seu parentesco com a Pedagogia, a Psicopedagogia traz as indefinições e contradições de uma ciência cujos limites são os da própria vida humana. Envolve simultaneamente, a meu juízo, o social e o individual em processos tanto transformadores quanto reprodutores. Da Psicologia, a Psicopedagogia herda o velho problema do paralelismo psicofísico, um dualismo que ora privilegia o físico (observável), ora o psíquico (a consciência).

Essas duas áreas não são suficientes para apreender o objeto de estudo da Psicopedagogia – o processo de aprendizagem e suas variáveis – e nortear a sua prática. Dessa forma, recorre-se a outras áreas, como a Filosofia, a Neurologia, a Sociologia, a Lingüística e a Psicanálise, no sentido de alcançar compreensão desse processo. Para Sara Paín, "nesse lugar do processo de aprendizagem coincidem um momento histórico, um organismo, uma etapa genética da inteligência e um sujeito associado a tantas outras estruturas teóricas, de cuja engrenagem se ocupa e preocupa a Epistemologia; referimo-nos principalmente ao materialismo histórico, à teoria piagetiana da inteligência e à teoria psicanalítica de Freud, enquanto instauram a ideologia, a operatividade e o inconsciente" (1987, p. 15).

Os autores brasileiros Neves, Kiguel, Scoz, Golbert, Rubinstein, Weiss, Barone e outros, assim como os argentinos Fernández, Paín, Visca, Müller, são unânimes quanto à necessidade de conhecimentos de diversas áreas que, articulados, devem fundamentar a constituição de uma teoria psicopedagógica. Ora, nenhuma dessas áreas surgiu especificamente para responder à problemática da aprendizagem humana. Elas, no entanto, nos fornecem meios para refletir cientificamente e operar no campo psicopedagógico, o nosso campo.

Entretanto, não só à Psicanálise recorre o psicopedagogo. Ele busca conhecimentos também na Psicologia Genética, na Psicologia Social, na Psicolingüística, etc. Sabemos igualmente que nenhuma dessas áreas surge para responder aos problemas de aprendizagem: as diversas combinações entre elas resultam, entretanto, em posturas teórico-práticas diversificadas, porém com diversos pontos de convergência. Assim a partir de pressupostos teóricos iniciais da Medicina, da Psicologia e da Pedagogia, foram-se constituindo concepções acerca dos problemas de aprendizagem, as quais transformaram-se e, consequentemente, transformaram a prática psicopedagógica, até esta chegar à configuração atual. De qualquer modo, a Psicopedagogia se encontra em fase embrionária e seu corpo teórico acha-se em construção, amalgamando-se ou estruturando o seu arcabouço lógico-principal ou ideal. A cada dia surgem novas idéias, novas situações e mais transformação: o psicopedagogo então transforma a teoria e, por seu turno, a teoria o transforma. Tratando do mundo psíquico individual e grupal em relação à aprendizagem e aos sistemas e processos educativos, o psicopedagogo ensina como aprender e, para isso, necessita apreender o aprender e a aprendizagem. Para o psicopedagogo, aprender é um processo que implica pôr em ação diferentes sistemas que intervêm em todo sujeito: a rede de relações e códigos culturais e de linguagem que, desde antes do nascimento, têm lugar em cada ser humano à medida que ele se incorpora à sociedade.

Atualmente, a Psicopedagogia refere-se a um saber e a um saber-fazer, às condições subjetivas e relacionais – em especial familiares e escolares – às inibições, atrasos e desvios do sujeito ou grupo a ser diagnosticado. O conhecimento psicopedagógico não se cristaliza numa delimitação fixa, nem nos déficits e alterações subjetivas do aprender, mas avalia a possibilidade do sujeito, a disponibilidade afetiva de saber e de fazer, reconhecendo que o saber é próprio do sujeito.Na transição de produção feudal para o capitalismo surge um novo estilo de homem, um homem livre, assalariado e especializado em uma produção, ficamos cada vez mais cartesiano, fragmentado, especifico em sua área de atuação. Perdendo assim uma visão do todo. O mercado controla esse mesmo homem e o poder especializado ocupado pelos “mal nascidos” que, antes produtores independentes, passam a ser sujeitos dentro de uma divisão social entre os capitalistas e os proletariados. Toda essa mudança ocorrida nas relações de produção visou libertar o homem do jugo do feudalismo e torná-lo livre para vender sua força de trabalho. Essa transformação, o advento da mais-valia, a transformação do trabalho em mercadoria, tem decorrências profundas na sociedade humana e, também, no comportamento humano, que, obviamente estiveram dialeticamente relacionada.

A mão de obra especificada, com novos horários e ritmos de trabalho e novas condições e maneiras de produção não privilegiava a visão de estudo, escolarização mas apenas aprender a sua habilidade específica. Assim, a escola aos poucos vai adquirindo significados diferentes para diferentes classes sociais a partir dos lugares que ocupavam em seus trabalhos, criando também uma idéia a respeito das diferenças de rendimento escolar entre alunos surgindo às desigualdades e diferenças dentro da mesma escola entre os sujeitos. Patto (1990) faz a seguinte afirmação: “E o fato de os novos homens bem-sucedidos o serem aparentemente por habilidades e mérito pessoal – já que não o eram por privilégios adquiridos do nascimento – confirmava uma visão de mundo na qual o sucesso dependia fundamentalmente do indivíduo”.

Patto postula que a ciência nunca foi neutra e sempre esteve presente para manter uma idéia que as pessoas acreditavam nas verdades ditas. O questionamento surgia quando havia suposição de que aquela verdade não existia, assim como a concepção de leitura da escola era desde o início uma verdade acreditada. A instituição e a história cultural são diferenças formadas por questões acreditadas. A ciência e a ideologia se confundem pois fazem a leitura quanto opção ideológica e quanto à escolha psicológica, pode ser implícita ou explicitamente mas em qualquer posição vai haver uma leitura dialética ou positivista. Como no início da discussão da escola nova é de ser universal e para todos, a promessa não se cumpre.

O conceito de problemas ou atrasos na aprendizagem é muito amplo e seu significado abrangeria qualquer dificuldade observável enfrentada pelo aluno para acompanhar o ritmo de aprendizagem de seus colegas da mesma faixa etária, seja qual for o fator determinante desse atraso. Certamente, a população assim é de uma grande heterogeneidade, não sendo simples encontrar critérios que delimitem com maior precisão. Os primeiros estudos na área surgiram no século XIX, das ciências médicas (neurologia, neurofisiologia e neuropsiquiatria), de modo que conceitos de anormalidade e patologia se transferiram dos hospitais para as escolas.

Com o progresso dos estudos pedagógicos, sociológicos, antropológicos, lingüísticos, entre outros, surgiram inúmeras questões, como as relacionadas à distinção entre normal e patológico, o que obriga a uma maior objetividade no uso de termos. O objetivo deste trabalho é fazer uma ampla abordagem do tema na tentativa de dar conta de importantes interfaces das questões pedagógicas relativas ao desenvolvimento, à família e ao meio social.

Busca-se assim, uma visão integrada e integradora da aprendizagem humana, considerando seus padrões evolutivos normais e patológicos, bem como as influências do meio social (família, escola e sociedade), determinantes do seu desenvolvimento. Em qualquer sala de aula existem alunos que, por diferentes motivos, não acompanham seus pares, independente do nível de complexidade dos conteúdos ou da metodologia utilizada naquele contexto específico.


2.2. CONCEPÇÃO DE AFABETIZAÇÃO

Tradicionalmente, o processo de alfabetização estava diretamente relacionado com a inteligência (QI), essa visão da alfabetização dominou, durante muito tempo, os estudos e pesquisas na área, explicava o papel desempenhado pela ideologia do dom, na justificativa do fracasso em alfabetização, atribuindo a responsabilidade por esse fracasso às chamadas disfunções psiconeurológicas da aprendizagem da leitura e da escrita

O foco da análise da alfabetização voltou-se para as abordagens cognitivas, sobretudo da Psicologia Genética de Piaget, Embora Piaget não tenha realizado pesquisas sobre a aprendizagem da leitura e da escrita, vários pesquisadores têm estudado a alfabetização, entre esses, destaca-se Emília Ferreiro.Mas apesar de todos os estudos realizados, ainda hoje a alfabetização tem sido considerada como processo de aquisição do código alfabético, em que a escrita representa a transcrição dos sons em fonemas.Nessa concepção de alfabetização e do seu processo de desenvolvimento o aluno é considerado como aquele que não possui qualquer conhecimento, que deve estar pronto para receber as informações de como lidar com esse código, através de um professor que, detendo o conhecimento, restringe-se apenas a transmiti-lo. A escola considera-se guardiã do objeto cultural: a linguagem escrita, tomando-o como algo estático e imutável, como um modelo a ser seguido, que exige do educando uma atitude de respeito diante deste objeto e ainda cópia e reprodução fiel, sem direito a modificações.Desta forma, a aquisição da leitura e da escrita deve acontecer através da utilização de um conjunto de procedimentos: métodos, técnicas e recursos, que possibilitem aos educandos adquirirem habilidades em relação ao uso desse código. O trabalho do professor quanto à alfabetização tem-se centralizado na busca do melhor ou mais eficaz método levantando, assim, uma polêmica em torno dos métodos sintético e analítico.

Os métodos sintéticos começam pela apresentação de elementos considerados simples (elementos sem nenhuma significação) e, por composição, vão alcançando as unidades significativas. Os métodos analíticos partem das unidades com significado (palavras ou frases) que vão decompondo progressivamente até alcançarem as unidades menores. Frente a esta dicotomia, muitos professores declaram que utilizam um método misto que nada mais é, do que uma mistura de elementos recebidos, que estão st1:PersonName ProductID="em alta. Essa">em alta. Essa forma tradicional leva a escola ver na alfabetização uma vinculação entre os métodos utilizados e o estado de maturidade ou prontidão, de conceber a escrita como transcrição gráfica das unidades sonoras e a leitura como decodificação deste código, essa realidade mostra o total desconhecimento dos professores e do processo de alfabetização.

De acordo com MOURA (1999, p. 127): ”Essas concepções e as formas de proceder baseada nos métodos, desnudado as práticas escolares que são de certo modo responsáveis pelo fracasso das crianças, pela sua expulsão da escola, transformando-as em analfabetos funcionais que, no futuro, em alguns casos, transforma-se nos adultos que voltam à escola em busca do conhecimento não adquirido”.

Além da utilização dos métodos, o livro didático é apresentado para o aluno como uma fonte de conhecimentos do mundo, ao invés de ser um dos objetos de conhecimento. As atividades de leitura e escrita, baseadas no livro didático, são totalmente desprovidas de sentido e totalmente alheias ao funcionamento da língua.

Para MOURA (1999, p. 131): “À medida que o professor desconhece o processo de aquisição que constitui a alfabetização, as características dos sujeitos que aprendem, ele torna o processo mais difícil do que deveria ser, produzindo fracasso escolares desnecessários, transformando a experiência da alfabetização em uma experiência literalmente traumática”.

Em contraposição a essa concepção em torno da alfabetização e a preocupação com os níveis alarmantes de fracasso escolar, Emília Ferreiro, propõe a psicogênese da língua escrita, onde o processo de aquisição da escrita é construído pela criança, e os objetivos da alfabetização devem possibilitar aos educandos irem muito além do que adquirir habilidades para a leitura e a escrita, mas sim interpretar aquilo que se lê e escreve, o processo de aprendizagem é resultado da atividade do sujeito que compara, exclui, ordena e reformula.

Segundo MOURA (1999, p. 140): “A alfabetização consiste num processo pedagógico e epistemológico deve possibilitar, ao sujeito, a apropriação do sistema de representação da linguagem escrita e a sua conseqüente reconstrução e utilização para si como objeto possibilitador da apropriação de novos conhecimentos e de intervenção em diferentes situações sociais”.

De acordo SMOLKA (1988, p. 47),”Ferreiro deixa bem claro a sua concepção sobre o sistema de linguagem em contraposição à concepção tradicional e faz a distinção entre a escrita como sistema de representação da linguagem e a escrita como sistema de decodificação”.

No primeiro caso, a escrita é concebida como um código de transcrição e a aprendizagem é concebida como aquisição de uma técnica. Tem-se uma imagem pobre do sujeito que aprende, não se entende nem se considera as experiências que ele tem e muito menos as suas concepções sobre a escrita, nem se avalia o seu caminho evolutivo até chegar à produção da escrita. No segundo caso, a escrita é entendida como um sistema de representação e a aprendizagem se converte na apropriação de um novo objeto de conhecimento. Entende-se que o processo de evolução do sujeito em direção à apropriação da escrita é um processo complexo que se identifica com a própria história da construção da escrita pela humanidade Desta forma, esta concepção de alfabetização pressupõe ter bem clara a distinção entre apropriação de conhecimento de aprendizagem e uma técnica de decodificação, pois a alfabetização é um processo ativo de reconstrução por parte do aluno que não pode se apropriar verdadeiramente de um conhecimento se não quando compreendeu seu processo de construção.Essas mudanças requerem novas atitudes em relação à compreensão dos sujeitos e do objeto da alfabetização. Requer entender que a escrita não é um produto escolar, mas sim objeto cultural, resultado do esforço coletivo da humanidade e que não é pela utilização de técnicas, métodos que o sujeito produz a escrita. O processo de alfabetização, enquanto construção do conhecimento, é uma tarefa crucial tanto para as crianças quanto para os professore

Conforme DORNELES (1990, p. 251), “à medida que começamos a estudar mais profundamente o fracasso escolar, percebemos que, no Brasil, esse problema adquire características de fenômeno de massa, ou seja, atinge a maior parte da população em idade escolar”.

Segundo WEISS (2000, p. 16), “os aspectos cognitivos estão ligados basicamente ao desenvolvimento e funcionamento das estruturas cognoscitivas em seus diferentes domínios. Inclui-se nessa grande área aspectos ligados à memória, atenção, antecipação. O fracasso escolar está ligado ao aluno enquanto aprendente, isto é, especificamente às condições internas de aprendizagem”.

Com relação à área afetiva a autora, ressalta a ligação entre o desenvolvimento afetivo, e sua relação com a construção do conhecimento e a expressão deste através da produção escolar. O não-aprender pode, por exemplo, expressar uma dificuldade na relação da criança com a sua família, será o sintoma de que algo vai mal nessa dinâmica. Quanto à área social, WEISS afirma que no “diagnóstico psicopedagógico do fracasso escolar de um aluno não se pode desconsiderar as relações significativas existentes entre a produção escolar e as reais oportunidades que a sociedade possibilita aos representantes das diversas classes sociais”.Em relação à área física, constata-se que os professores entrevistados não consideram como a área que esteja mais relacionada com as dificuldades de aprendizagem, pelo fato de que em suas classes não havia crianças portadoras de necessidades especiais ou com déficit físico ou orgânico, mas reconhecem a importância do corpo na aprendizagem.

Conforme PAIN (1985, p. 22), “é com o corpo que se fala, se escreve, se tece, se dança, resumindo, é com o corpo que se aprende. As condições do mesmo sejam constitucionais, herdadas ou adquiridas, favorecem ou atrasam os processo cognitivos e, em especial, os da aprendizagem”

De acordo com SCOZ (1994, p. 71), a influência familiar é decisiva na aprendizagem dos alunos. Os filhos de pais extremamente ausentes vivenciam sentimentos de desvalorização e carência afetiva, gerando desconfiança, insegurança, improdutividade e desinteresse, sérios obstáculos à aprendizagem escolar.

“A influência da mídia aparece como o segundo fator que contribui para as dificuldades de aprendizagem, pois conforme LIBÂNEO (2000, p. 72), a televisão passa a ser um instrumento cada vez mais poderosos no processo de socialização. Um dos aspectos negativos dessa influência é a tendência à passividade e à dependência das crianças prejudicando o desenvolvimento pleno de suas capacidades cognitivas e sócio-afetivas”.Os professores consideram que a pobreza e a condição social dos alunos como um fator que influencia nas dificuldades de aprendizagem. Para SCOZ (1994, p. 81), a pobreza dos alunos aparece com forte determinante dos problemas de aprendizagem. A autora ressalta que sem querer negar que grande parte do fracasso de alguns alunos pode estar relacionado à pobreza material a que estão submetidos, é importante estar atento para que a baixa renda das famílias não seja utilizada como justificativa para o insucesso escolar das crianças, eximindo a escola de qualquer responsabilidade.

Alguns professores apontaram a falta de interesse do aluno como um fator que contribui para as dificuldades de aprendizagem. Mas, para WEISS (2000, p. 23), é preciso que o professor competente e valorizado encontre o prazer de ensinar para que possibilite o nascimento do prazer de aprender. O ato de ensinar fica sempre comprometido com a construção do ato de aprender, faz parte de suas condições externas. A má qualidade do ensino provoca um desestímulo, na busca do conhecimento. Não há assim um investimento dos alunos, do ponto de vista emocional, na aprendizagem escolar, e essa seria uma condição interna básica. Há casos em que tal desinteresse é visto como um problema apenas do aluno, sendo ele encaminhado para diagnóstico psicopedagógico por não ter o menor interesse nas aulas é não estudar em casa, baixando assim sua produção.Constata-se que mesmo a família estando ciente das dificuldades que apresenta a criança, muitas vezes, fica omissa não ajudando o professor, não contribuindo para o trabalho da escola, que deveria ser em conjunto com a família para superação das dificuldades.

De acordo com SCOZ (1994, p. 143), o contato com a família pode trazer informações sobre fatores que interferem na aprendizagem e apontar os caminhos mais adequados para ajudar a criança. Também torna possível orientar aos pais para que compreendam a enorme influência das relações familiares no desenvolvimento dos filhos.

Quanto à concepção de alfabetização dos professores, percebe-se que esse processo deve ser prazerosos, desafiador e, principalmente deve possuir significado, que permita ao aluno ir além de escrever e ler, isto é, que seja uma construção resultante da interação da criança com a língua escrita.

Conforme WEISS (2000, p. 70), “alfabetizar é penetrar num mundo novo, é mudar o eixo referencial da vida. O domínio da língua escrita dá à criança uma autonomia ao mesmo tempo prazerosa e assustadora”.No que se refere ao método de alfabetização proposto pela escola, todos os professores entrevistados foram unânimes em dizer que a escola não apresenta um método de alfabetização, todos os professores utilizam um método pessoal de alfabetização ou em construção comunitária com os demais professores.

Com relação às alternativas didáticas, FERREIRO (1989, p. 73), afirma que, muitos professores declaram utilizar um método misto, que nada mais é, em realidade, do que uma mistura de elementos recebidos, por tradição de outros que estão na moda e de uma certa dose de intuição.A psicopedagoga Maria Lucia Leme Weiss reflete a preocupação e a tendência atual da Psicopedagogia no seu compromisso com a escola. Nesse trabalho preventivo junto à escola, deve-se levar em consideração, inicialmente, quem são os protagonistas dessa história: professor e aluno. Porém, estes não estão sozinhos: participam, também, a família e outros membros da comunidade que interferem no processo de aprendizagem – aqueles que decidem sobre as necessidades e prioridades escolares.

2.3. A PSICOPEDAGOGIA NA INSTUIÇÃO ESCOLAR

A Psicopedagogia se ocupa da aprendizagem humana, e surgiu de uma demanda: o problema de aprendizagem, colocado num território pouco explorado, situado além dos limites da Psicologia e da própria Pedagogia. Como se preocupa com os problemas de aprendizagem, o psicopedagogo deve ocupar-se inicialmente com o processo de aprendizagem, como se aprende, como essa aprendizagem varia, e como se produzem as alterações na aprendizagem, como reconhecê-las, tratá-las e preveni-las.

Segundo Bossa, o objeto central de estudo da Psicopedagogia está se estruturando em torno do processo de aprendizagem humana: seus padrões evolutivos normais e patológicos, bem como a influência do meio (família, escola, sociedade) no seu desenvolvimento.

O trabalho na instituição escolar, voltado para a psicopedagogia, apresenta duas naturezas: o primeiro diz respeito a uma psicopedagogia voltada para o grupo de alunos que apresentam dificuldades na escola. O seu objetivo é reintegrar e readaptar o aluno à situação de sala de aula, possibilitando o respeito às suas necessidades e ritmos. Tendo como meta desenvolver as funções cognitivas integradas ao afetivo, desbloqueando e canalizando o aluno gradualmente para a aprendizagem dos conceitos, conforme os objetivos da aprendizagem formal. O segundo tipo de trabalho refere-se à assessoria junto à pedagogos, orientadores e professores. Tem como objetivo trabalhar as questões pertinentes às relações vinculares professor-aluno e redefinir os procedimentos pedagógicos, integrando o afetivo e o cognitivo, através da aprendizagem dos conceitos, as diferentes áreas do conhecimento.

Na sua tarefa junto às instituições escolares, o psicopedagogo, numa ação preventiva, deve adotar uma postura crítica frente ao fracasso escolar, visando propor novas alterações de ação voltadas para a melhoria da prática pedagógica nas escolas.Para resolver o fracasso escolar necessitamos recorrer principalmente a planos de prevenção nas escolas – batalhar para que o professor possa ensinar com prazer para que, por isso, seu aluno possa aprender com prazer, tende a denunciar a violência encoberta e aberta, instalada no sistema educativo, entre outros objetivos.

Tendo por base o livro de Patto “A Produção do Fracasso Escolar: história de submissão e rebeldia” o qual busca uma reconstrução histórica das idéias presentes na Psicologia. Importante para compreensão do modo escolar atual precisa-se ter uma visão clara da estrutura escolar ao longo da história. Assim, Patto retoma a história brasileira para fazer a compreensão da produção do fracasso escolar de um sistema de ensino que tinha uma lógica desde muitos anos atrás que não pode ser deixada de lado para entendermos a realidade educacional dos dias atuais. Não existe crítica sem história, e, fazendo uma retomada nos marcos da história visando um sistema de ensino que tem concepções lineares ao longo do tempo.

O aluno, ao ingressar no ensino regular, por volta de 7 anos, traz consigo uma história vivida dentro do seu grupo familiar. Se a sua história transcorreu sem maiores problemas, estará estruturado seu superego e poderá deslocar sua pulsão a objetos socialmente valorizados, ou seja, estará para a sublimação. A escola se beneficia e também tem função importante nesse mecanismo, pois lhe fornece as bases necessárias, ou seja, coloca ao dispor da criança os objetos para os quais se deslocará a sua pulsão. A escola administra esse mecanismo pulsional da criança. É o momento ideal para o ingresso no ensino regular, já que as suas condições psíquicas favorecem o aprendizado escolar. Se tudo correu bem no desenvolvimento da criança, estará estruturado o seu desejo de saber: a epistemofilia. Ingressa na escola com um desenvolvimento construído a partir do intercâmbio com o meio familiar e social, o qual pode ter funcionado tanto como facilitador como inibidor no processo de desenvolvimento afetivo-intelectual. Em seus eventuais bloqueios, a afetividade pode estar operando de forma a impedir a aprendizagem.A criança não escolhe ir para a escola e, tampouco, o que vai aprender. A instituição escolar, a rigor, tem a função de preparar a criança para ingressar na sociedade, promovendo as aprendizagens tidas como importantes para o grupo social ao qual esse sujeito pertence.Por outro lado, na escola, a criança encontra-se especialmente com um outro – o professor. O professor escolheu sua tarefa – ensinar o que sabe – e preparou-se para tal. As motivações que o levaram a eleger essa tarefa podem ser muito variadas e determinam seguramente uma forma de vínculo com os seus alunos.

Pensar a escola à luz da Psicopedagogia implica nos debruçarmos especialmente sobre a formação do professor. As propostas de formação docente devem oferecer ao professor condições para estabelecer uma relação madura e saudável com os seus alunos, pais e autoridades escolares. Investigar, analisar e realizar propostas para uma formação docente que considere esses aspectos constitui uma tarefa extremamente importante, da qual se ocupa a Psicopedagogia. O processo diagnóstico, assim como o tratamento, requer procedimentos específicos que constituem o que chamo de metodologia ou modus operandi do trabalho clínico. Ao falar da forma de se operar na clínica psicopedagógica, ela varia entre os profissionais, a depender, por exemplo, da postura teórica adotada, além de se contar com o fato de que, como já foi dito, cada caso é um caso com suas variantes, suas nuances, que diferenciam o sujeito, seu histórico, seu distúrbio.

Em geral, no diagnóstico psicopedagógico clínico, ademais de entrevistas e anamnese, utilizam-se provas psicomotoras, provas de linguagem, provas de nível mental, provas pedagógicas, provas de percepção, provas projetivas e outras, conforme o referencial adotado pelo profissional. Seja qual for esse referencial, a observação, é de fundamental importância para precisar melhor o quadro do problema e processar o tratamento.Quando se faz referência à produção do sujeito, no momento do diagnóstico, fala-se do material diagnóstico, ou seja, olhar e escutar para decifrar a mensagem do jogo, de um silêncio, de um gesto, de uma recusa. Mais importante que os instrumentos utilizados é a atitude do profissional frente à mensagem do cliente.

2.4.O FRACASSO ESCOLAR NA ALFABETIZAÇÃO

A aprendizagem da leitura e escrita constitui-se uma das tarefas básicas propostas à educação. Aparentemente simples, essa tarefa constitui, no entanto, um dos problemas educacionais da atualidade que mais chama atenção, por isso tem sido objeto de estudo. O assunto tem sido questionado por parte de pais, professores e especialistas em educação não só no que diz respeito ao domínio da escrita propriamente dita, mas às repercussões dessa aprendizagem nos vários aspectos da escolaridade.

Quando uma criança ingressa na escola, sua primeira tarefa é aprender a ler e escrever, sendo a alfabetização o centro das expectativas de pais e professores. Os pais a e própria criança não têm, em geral, razão para duvidarem do sucesso nessa nova aprendizagem. No entanto, o que muitas vezes os pais e professores não consideram, é que a leitura e a escrita são habilidades que exigem da criança a atenção para aspectos da linguagem aos quais ela não precisa dar importância, até o momento em que começa aprender a ler e escrever. Por isso, toda a criança encontra alguma dificuldade na aprendizagem da leitura e da escrita. Aprender a ler exige novas habilidades, novos desafios à criança com relação ao seu conhecimento da linguagem. Por isso, aprender a ler é uma tarefa complexa e difícil para todas as crianças.Quando as crianças não conseguem atender às expectativas da professora, supõe-se e conclui-se que elas têm problemas, pois a escola constrói um modelo de bom aluno, mas nem todas crianças se adaptam dentro desse modelo, quando isso acontece os professores recorrem as muletas para explicar tal situação: "estas crianças não podem aprender porque não há ajuda familiar, falta de maturidade, suposta lesão cerebral mínima ou transtornos do tipo: psicomotora, na fonação, percepção, etc..."(FERREIRO, 1989, p. 73).

Sobrecarregados de tanta violencia estas crianças acabam aprendendo que não poderão aprender, buscando estratégias de sobrevivência neste sistema, tentam adequar-se às normas e copiam do quadro mesmo sem saber como e porquê. Outras se recusam a copiar, procuram outras atividades para fazer, surgindo o espaço ideal para a indisciplina.Várias pesquisas afirmam que o fracasso na leitura constitui uma das principais causas de repetência ou atraso escolar. Cerca da metade dos alunos repetem a primeira série onde a repetência é acentuada e está intimamente relacionada com problemas no ensino e na aprendizagem inicial da leitura e escrita e, nos casos dos alunos provenientes de família de baixa renda, essa porcentagem sobe para 60% (TORRES, 1999, p. 12).

Segundo FERREIRO (1989, p. 73)A “escola geralmente, ineficiente para introduzir as crianças no mundo da língua escrita, é contudo, extremamente eficiente para conseguir fazer com que assumam a culpa de seu próprio fracasso: um dos maiores danos que se pode fazer a uma criança é leva-la a perder a confiança em sua capacidade de pensar”.

Nesse contexto, o ensino da escrita tem se reduzido a uma simples técnica que serve e funciona num sistema de reprodução cultural. Os efeitos desse ensino são evidentes, não apenas nos índices de evasão e repetência, mas nos resultados de uma alfabetização sem sentido que produz uma atividade sem consciência, desvinculada da realidade e desprovida de sentido, tornando a escrita um instrumento seletivo, dominador e alienador. Já é bem conhecido o fato de que o fracasso escolar não se distribui democraticamente no conjunto da população. O fracasso escolar inicial, que é o da alfabetização, se concentra nas populações urbanas e rurais marginalizadas. Constitui, também, lugar comum assinalar correlações positivas entre o fracasso da alfabetização no tempo escolar requerido e fatores como estado de saúde da criança (especialmente o nutricional) o nível de educação dos pais, as condições gerais de vida, etc. os professores e a instituição escolar têm aceitado, com facilidade, a realidade de tais fatos.

A expressão “fracasso escolar” tem sido utilizada em múltiplos sentidos devido fundamentalmente, à diversidade de fatores intervenientes no processo da aprendizagem humana, bem como à diversidade de profissionais que se dedicam ao tema. Atualmente se reconhece que, ao lado de um pequeno grupo de crianças que apresentam “transtornos específicos na aprendizagem escolar”, decorrentes de imaturidade e/ou disfunção psiconeurológica, existem muitas outras que apresentam manifestações pedagógicas semelhantes, conseqüentes de inúmeros outros fatores não necessariamente orgânicos. A fronteira entre diferentes grupos de crianças que apresentam dificuldades de aprendizagem não é muito nítida. Exemplificando: uma criança pode apresentar irregularidade no traçado das letras, não necessariamente decorrente de alterações de ordem motora. É preciso considerar que dificuldades gráficas podem decorrer também de instabilidade emocional e da falta de experiências com instrumentos de escrita.

O estudo dos fatores etiológicos, bem como das reações do meio face a determinada dificuldade na aprendizagem, é de fundamental importância na seleção da orientação a ser seguida, evitando-se rotulações apressadas e estresse adicional. A adolescência abrange determinado período do desenvolvimento que envolve características próprias e situações específicas; disso resulta a necessidade de um maior aprofundamento do estudo da sua dinâmica, a fim de permitir um melhor conhecimento das suas exigências e limites evolutivos.

As diferenças individuais dos adolescentes devem ser sempre consideradas, uma vez que cada personalidade caracteriza-se por um conjunto de traços pessoais que determinam formas diversas de comportamento e de inter-relação com o meio ambiente. Não se pode partir de um esquema de padrões fixos e determinados, pois a experiência comprova a multiplicidade de atitudes encontradas, reagindo o indivíduo em função das condições biológicas do seu organismo, da estrutura da sua personalidade, do seu nível de maturidade, das suas experiências e vivências condicionadas pelo meio ambiente e pelo seu estilo de vida pessoal.

Dificuldades criadas pela sociedade moderna, “sociedade em crise”, e de complexa estrutura sócio-econômica, são fatores agravantes da problemática da adolescência classificada por muitos autores como fenômeno sócio-cultural que pode ser prolongado ou abreviado de acordo com as culturas onde se processe. A complexidade da vida moderna, as tensões universais, a competição excessiva dos grupos sociais, as condições impostas pelo sistema escolar e profissional podem trazer ainda mais problemas para os adolescentes. Os problemas da autoridade, liberdade e disciplina são importantes para o adolescente; quando não resolvidos constituem fonte de conflitos que podem mesmo levá-los a distúrbios mais graves.

Tanto a família, como a escola, devem agir no sentido de favorecer o desenvolvimento da personalidade do adolescente, ajudando-o a conseguir um bom índice de ajustamento, ajudar a superar as dificuldades encontradas ao longo do período escolar. O cérebro sofre uma série de alterações que serão descritas ao longo deste trabalho mostrando a influência de tudo isso no desempenho escolar do adolescente e em sua vida social

2.4.1. O FRACASSO ESCOLAR COMO OBJETO DE ESTUDO

Geralmente quando uma criança é encaminhada pela professora da escola, ela já tem histórico de fracasso escolar. Por essa razão, apresenta-se muito negativa, ele não acredita mais, duvida de suas habilidades e potencialidades, generalizando uma dificuldade sua para outras áreas que domina. Se, entre os dados subjetivos pergunta-se a criança “qual é sua habilidade?” muitos não sabem o que responder pois se acham incapazes de fazer qualquer coisa. E isso não é verdade pois todo mundo tem habilidade para alguma coisa. O problema é que aquelas pessoas foram criadas para pensar que não servem para nada.

O aluno já havia passado por duas escolas em anos anteriores. O motivo de G. M. ter saído de sua primeira escola no meio da segunda série foi porque o pai queria que ele ficasse longe do mangue e longe da mãe. A segunda escola freqüentada era por “módulos” mas lá não ficou muito tempo pois foi levado ao abrigo.Houve momento de indignação quando nos deparamos com a professora mais uma vez reclamando da falta de vontade de G. M. em fazer a tarefa escolar, mesmo sabendo que G. M se encontrava residindo em um abrigo, longe dos cuidados de seus pais e sem o auxílio dos mesmos. Verificamos o conteúdo da tarefa que G. M. tinha ignorado. Continha ali perguntas para ser respondida com seus pais referentes aos cuidados que ele tem em casa, sobre qual a comida que ele mais gosta “preparada pela mamãe” as brincadeiras com os irmãos, não esquecendo que no abrigo eles são separados por idade e assim G. M. fica separado de seu irmão mais novo.

Em outra ocasião, também nos indignamos com a diferença de tratamento em relação ao aluno. Nos deparamos com ele, em horário de aula, sozinho na biblioteca da escola e ninguém dentro de sua sala de aula. A resposta de onde estavam seus colegas veio logo: “Todos foram ao teatro. Menos eu. Eu não tenho três reais para ir lá. Também não tenho como ir pois precisa de uma autorização dos pais. No abrigo a tia não assina.” No dia seguinte G.M. não foi à aula, permanecendo a tarde toda na rua até o horário de retorno ao abrigo. E ele diz: “Eu não fui mesmo tia. A minha professora disse que tinha que escrever sobre o teatro. Eu não sei escrever sobre isso”.

Antes de trabalhar qualquer dificuldade de aprendizagem do aluno, deve-se fazer uma reflexão sobre sua vida, dúvidas, conflitos e incertezas. Ter um envolvimento com sua história. en-lo acreditar que é capaz, que possui dons e habilidades específicas que podem ent-lo a superar suas dificuldades. ent-lo a entender o mundo em que vive e o lugar que nele ocupa.

A relação pedagógica, o olhar do professor em quem é investido dentro da sala com ela e quem não se investe é da responsabilidade do próprio professor, o que é reflexo de sua formação. Para se ensinar adequadamente uma criança, é necessário que se compreenda a relação dela com sua família e também com outras crianças da escola, não podendo se confundir “falta de vontade” da criança em aprender, com os dramas que ela vivencia. De fato na prática essa olhar de desinvestimento foi verificado nas observações dentro da escola em relação ao aluno.A experiência deste estudo de caso nos mostra como nosso olhar passa por filtros que nos impedem de ver a realidade do outro, são filtros teóricos e de preconceitos. A partir do momento em que se pode olhar para essa realidade, en-la e ent-la dentro da vertente em que a criança foi educada percebe-se que ela é cheia de marcas, de pensamentos e comportamentos estereotipados, e normalmente a criança se comporta como os outros lhe ensinaram a se comportar, o que reflete no seu desempenho escolar. Não há uma escolha da criança.

Devemos sempre estar atentos a real condição do educador e do educando. O professor, como representante do papel que lhe é socialmente atribuído, ou seja, ensinar, depara-se com vários dilemas seus que se misturam com o papel da profissão que ocupa. Os professores assumem, além de ensinar, a disciplina e em tornar uniforme o que é diferente produzindo assim, via educação, os privilégios e os sofrimentos.

Sempre que a escola falha na assistência e na formação do aluno quebra-se um elo no ritmo natural de um desenvolvimento potencial de conquistas, estabelecendo-se a desordem. Desordem que pode levar a vida do aluno ao caos e que se reflete na desestruturação da sociedade. Sempre que a escola desvirtua seu papel primordial, desencadeia-se um mecanismo automático de ressonância, que passa a repercutir na ordem social de uma cidade, de um país, do mundo.

Na criança problema nos dias de hoje não se faz igualdade social, se faz justiça social pois não é todo mundo igual e devem-se reconhecer essas diferenças mas a escola nivela todos como iguais e não se adequar com a origem social de cada um. Dentro da escola quem pode mais tem menos fracasso escolar. Mesmo diante destes conceitos sociais o termo resiliência vem se tornando cada vez mais conhecido entre os profissionais de psicologia e pedagogia. No caso de G. M, que enfrentou as carências afetivas herdadas por uma infância difícil pode haver ainda a capacidade de recuperação ou adaptação às más condições de vida se observadas as necessidades e oportunizar mudanças para que ele mesmo alcance suas necessidades.

O que se deve considerar é que o aluno, assim como o professor, não deixa de “ser humano” para aprender ou ensinar, ou seja, possui valores, dilemas e conhecimentos que lhe são característicos. Entra em questão a vida cotidiana desses professores pois somente conseguindo fazer suspensão desse cotidiano, consegue-se a produtividade, ou seja, ao retornar à vida cotidiana modificar esse mesmo cotidiano. Mas como suspender esse cotidiano? Segundo Agnes Heller, estabelecendo condições de compreensão da noção de cotidiano, apontando para uma perspectiva histórica que permita o seu emprego, metodologicamente, na investigação dos significados que as representações sociais fazem surgir das relações entre os seres humanos. Identificar o cotidiano compondo-o de traços que nos permitisse enta-lo em situações da vida humana, trás a possibilidade de interpretação histórica.

A ordem do cotidiano está contida na história assim como a ordem das instituições. Torna-se fácil perceber a história permeada apenas nestes acontecimentos do cotidiano, de onde tudo parte, mas, como nos sugere Agnes Heller quando afirma que “a vida cotidiana não está “fora” da história, mas no “centro” do acontecer histórico: é a verdadeira essência da substância social”.Desse modo às relações de trabalho, a vida social, as decisões, os acontecimentos econômicos, partem da vida cotidiana; o cotidiano é a percepção daquilo que se tornou habitual, “comum”, mas sem o qual não viveríamos humanamente, não reconheceríamos os outros, o mundo e nem a nós mesmos.

As queixas mais freqüentes dos professores são de que o aluno não tem limite, não tem disciplina, não quer estudar e enfim, o discurso freqüente de ‘se’ a família ajudasse, ‘se’ tivesse a avó presente e etc. O ‘se’ sempre impondo o mesmo movimento de culpa e de responsabilidade no outro e não implicando ao que eles (educadores) estão ensinando a uma criança sem pais presentes. Uma das respostas mais ouvidas pelos professores quando a pergunta sobre a escolha dos assuntos dados em sala de aula é “parto dos interesses e necessidades dos meus alunos”. No caso de G.M não se resgatou a questão de ele ter pais ausentes. Assim, a professora não está tratando todos os alunos da sala como cada um tendo sua particularidade, mas novamente com a idéia de igualdade entre todos os alunos. Implica em falar do aluno com problemas mas não o escuta, também o espaço da escola não condiz com a realidade de todos os alunos ali inseridos.

O pensamento de que “devemos tratar crianças como crianças” implica ao professor tratar a criança como criança. Mas ao mesmo tempo em que há esse reconhecimento que diz “você é uma criança”, leva também o mesmo a um reconhecimento de que, se é criança, foi gerada e logo tem uma família. Então, ao mesmo tempo em que transforma crianças em diferentes dos adultos, transforma crianças em iguais pois crianças devem ter, dentro dos conceitos de normalidade, um pai que trabalha e uma mãe que lhe dê acolhimento. Se uma criança dentro da sala de aula não tem um uma família, fica diferente do padrão. Mas a professora incorpora um padrão, uma “normalidade”, o sujeito modelo então o outro é o falso, o fora dos padrões normais. Há uma dificuldade em conviver com a alteridade pois a relação com a diferença encaixa à normalidade, onde todos os que não são iguais como anormais. As diferenças de cada um não estão simplesmente para serem respeitadas pois em verdade sempre continuarão as diferenças e as subordinações. As diferenças de cada um estão para também cada um se reconhecer com dessas diferenças ao invés de mistificar.

O preconceito é a categoria do pensamento e do comportamento cotidiano. Além disso, é um juízo que poderia ser evitado mas, não o é porque confirma ações anteriores e é compatível com a conformidade. Também tem a função de manter a coesão de grupos e a interação social pois “se ele é pobre, eu não sou”. Mas quem é então essa criança a partir dos preconceitos? Naquilo que duvidamos do modo de ser humano inscrevemos a diferença. Ao mesmo tempo, produz uma interação social, permite o reconhecimento do indivíduo diante do grupo, e em conseqüência disso estabelece a diferença em relação ao outro (aquele que não pertence ao grupo). A cultura, a confirmação de uma ideologia, uma crença religiosa, os hábitos do dia a dia, as possibilidades das relações familiares, ou com amigos, com estranhos, enfim, tudo se inscreve no cotidiano e este orienta sobre como agir, o que evitar, aceitar, questionar. Aquilo que nos parece “normal” somente assim se afirma porque decidimos claramente sobre o que não o é.

No cotidiano construímos a nossa existência e da diferença que estabelecemos com o outro. É necessário então um exercício diário dos atos fundadores da identidade e da diferença. O professor, ao perceber o seu cotidiano, as suas tradições, as crenças do que é correto ou incorreto não deve e-las como únicas. E desses conhecimentos e desses saberes não mais únicos, dessa mudança de olhar, dessa resignificação que supera-se o fracasso escolar através da vida cotidiana.Nessa perspectiva, o fracasso escolar passa a ser explicado pela existência de diferenças individuais na capacidade de aprendizagem das crianças.

2.5. A PSICOPEDAGOGIA HOJE

A Psicopedagogia tem por objeto de estudo a aprendizagem como um processo individual, em que a trajetória da construção do conhecimento é valorizada e entendida como parte do resultado final.Vivemos na era do conhecimento. Não se pode pensar no exercício da cidadania sem que o cidadão tenha acesso à formação acadêmica mínima de oito anos mas, na prática, a sociedade demonstra que a exigência real de um segundo grau e, de preferência, com um pós-médio. Temos visto que para exercer qualquer profissão, seja ela a mais simples ou a mais complexa, a pessoa será submetida a treinamentos que devem passar, não apenas por especificidade da função e do local de trabalho, mas por treinamentos de ética, qualidade, perfil de cliente, economia, etc. A pessoa é valorizada por seus diplomas mas também por sua capacidade de construir conhecimento, de gerar instrumentos e serviços adequados ao contexto sócio-econômico-cultural.Estamos vivendo em plena era de globalização, em que o conhecimento e as descobertas científicas circulam com uma incontrolável rapidez e as próprias instituições de ensino têm dificuldade em acompanhar o fluxo dessas informações. É extremamente fácil acontecer um avanço científico em determinada área do conhecimento sem que o profissional especializado saiba, ou ainda, é possível que uma outra pessoa, de outra área do conhecimento venha a saber dessas descobertas antes do especialista. Ao mesmo tempo que o conhecimento circula com facilidade por todos os lados, é necessário saber como encontrá-lo, ter acesso à tecnologia adequada e às fontes de informações seguras do conhecimento..
Diante disso, surge a pergunta: só a informação basta? Sabe-se que não. O que fará a diferença é a forma como a pessoa integra uma informação, transforma-a em aprendizagem e a coloca a serviço da comunidade. Nessa perspectiva, a freqüência à escola não garante o salto qualitativo que requer o movimento social. A Psicopedagogia tem por objeto de estudo a aprendizagem como um processo individual, em que a trajetória da construção do conhecimento é valorizada e entendida como parte do resultado final. A preocupação maior da Psicopedagogia é o ser que aprende, o ser cognoscente e o seu objetivo geral é desenvolver e trabalhar esse ser de forma a potencializá-lo como uma pessoa autora, construtora da sua história, de conhecimentos, e adequadamente inserida em um contexto social.

O trabalho da Psicopedagogia é evitar ou debelar o fracasso escolar em uma visão do sujeito como um todo, objetivando facilitar o processo de aprendizagem. O ser sob a ótica da Psicopedagogia é cognitivo, afetivo e social. É comprometido com a construção de sua autonomia, que se estabelece na relação com o seu "em torno", à medida que se compromete com o seu social estabelecendo redes relacionais. "Para o pensador sistêmico, as relações são fundamentais" (CAPRA, p 47)

A dificuldade de aprendizagem nessa definição é entendida e trabalhada com um agente dificultador para a construção do aprendiz que é um ser biológico, pensante, que tem uma história, emoções, desejos e um compromisso político-social. "A Psicopedagogia tem como meta compreender a complexidade dos múltiplos fatores envolvidos nesse processo" (RUBINSTEIN, p 127 Nem sempre a Psicopedagogia foi entendida da forma como aqui está caracterizada.
A Psicopedagogia, inicialmente, começou tendo como pressuposto que as pessoas que não aprendiam tinham um distúrbio qualquer. (BOSSA, p.42) A preocupação e os profissionais que atendiam essas pessoas eram os médicos, em primeira instância e, em segunda Psicólogos e Pedagogos que pudessem diagnosticar os déficits. Os fatores orgânicos eram responsabilizados pelas dificuldades de aprendizagem na chamada época "patologizante" A criança ficava rotulada e a escola e o sistema a que ela pertencia, se eximiam de suas responsabilidades: "Ela (a criança) tem problemas..."Posteriormente, com a ampliação da visão de que o sujeito não é apenas um ser racional, os psicopedagogos passaram a estudar e a avaliar o processo da aprendizagem. Porém, essa observação levou a uma prática pautada no refazimento do processo de aprendizagem e requeria reposição de conteúdos e repetições até que a criança aprendesse. A criança ficou subdividida em setores e não havia articulação entre o emocional, a cognição, o motor e o social.

Os vários profissionais envolvidos na questão aprendizagem foram percebendo que não bastava retirar o eixo da patologia para a aprendizagem, mas era necessário saber que sujeito era esse, de onde ele vinha e para onde ele queria e podia ir. A constatação que apenas uma área do conhecimento não conseguiria respostas absolutas e definitivas para a situação, deflagrou o que é hoje a Psicopedagogia.

Os profissionais interessados nas questões de aprendizagem entenderam que o caminho era a interdisciplinaridade para compreender a complexidade desse fenômeno. A partir de diferentes referenciais teóricos, tais como a Pedagogia, a Psicologia, a Fonoaudiologia, a Psicanálise, a Sociologia, a Neurologia, etc. foram se construindo e pesquisando outros referenciais, outros instrumentos, outras sínteses. Esse conhecimento foi construído a partir do encontro desses profissionais, pautado em teorias, experimentos, pesquisas, práticas diferenciadas e, o mais provocante, de uma realidade que teimava em incomodar - o fracasso escolar!


Neste raciocínio, a Psicopedagogia não é a justaposição da Psicologia e da Pedagogia e, nem tampouco, um Pedagogo ou um Psicólogo "mais especializado". A Psicopedagogia se propõe a investigar e a entender a aprendizagem com base no diálogo entre as várias disciplinas. O Psicopedagogo é um outro profissional, com um outro referencial, a partir de um outro conhecimento e com um outro olhar.A psicopedagogia, hoje, é entendida num contexto de interdisciplinaridade, sem contudo, perder de vista que "Os diferentes níveis de Realidade são acessíveis ao conhecimento humano graças à existência de diferentes níveis de percepção, que se acham em correspondência biunívoca com os níveis de realidade... sem jamais esgotá-la completamente." (NICOLESCU, p 56)

Diante desses avanços, a criança que não está conseguindo aprender é entendida e trabalhada, não como alguém que possui um déficit ou um problema, mas como um aprendiz que possui um estilo de aprender diferente, que está diretamente relacionado ao estilo de família e da comunidade a que pertence.Em face da complexidade das questões aqui levantadas e da delicadeza do nosso objeto e objetivo de trabalho, não prescindimos dos nossos parceiros. Trabalhamos e necessitamos dos Pedagogos, dos Psicólogos, dos Fonodiólogos, etc, mas possuímos os nossos instrumentos de trabalho, os nossos referenciais, a nossa escuta e o nosso olhar.

Analisando a trajetória aqui apresentada, fica claro o entendimento do porquê da formação em Psicopedagogia estar organizada na forma de pós-graduação. Ela exige do aprendiz uma articulação, uma abordagem e um avanço qualitativo inerentes a uma maturidade profissional e acadêmica. Portanto, é necessário muito cuidado na escolha do curso de pós-graduação em Psicopedagogia. Devemos analisar a oferta de disciplinas inerentes a aprendizagem, o número de horas ofertadas, se os professores são psicopedagogos especialistas, se tem estágio supervisionado por um psicopedagogo. Os profissionais psicopedagogos, quando inquirido da necessidade ou relevância do curso de Psicopedagogia ser de especialização, testemunham que apenas a formação é insuficiente para entender e trabalhar, competentemente, com a aprendizagem e seus possíveis percalços.
Onde trabalham os psicopedagogos? Como trabalham? Quais as suas ferramentas de trabalho? Os psicopedagogos trabalham em clínicas, em atendimentos individuais, em instituições escolares, hospitais e empresas onde se promova aprendizagem. Os recursos são os que possibilitem entender quais as dificuldades que aquele aprendiz está enfrentando para aprender e quais as possibilidades para mudança que ele apresenta. Os instrumentos não costumam ser os padronizados e sim os jogos, as atividades de expressão artística, a linguagem escrita, as leituras e dramatizações, etc. Enfim, atividades que valorizem o que a criança sabe, que estimulem a expressão pessoal, o desejo de aprender e sua possibilidade de amadurecer, vencer situações e resolver problemas. Os psicopedagogos, tanto em clínicas quanto nas instituições, trabalham com diagnóstico e intervenção.Por tudo o que aqui foi descrito é que estamos lutando pela regulamentação da profissão de Psicopedagogo. Entendemos que, se o projeto de lei que regulamenta a nossa profissão for aprovado, poderemos cuidar da qualidade dos cursos oferecidos e estender o atendimento à comunidade como um todo, já que poderemos participar de concursos públicos, de convênios, etc. A aprovação do projeto de lei será uma oficialização do que já está socialmente reconhecido.

A Associação Brasileira de Psicopedagogia é uma entidade de caráter científico cultural. Fundada em 1980, tem como objetivo principal congregar profissionais psicopedagogos e profissionais afins e promover estudos, pesquisas, cursos, encontros e compartilhamentos. Temos hoje, no Brasil, uma sede nacional localizada em São Paulo, doze(12) seções, onze (11) núcleos que atendem a todo o território nacional.Obviamente que muito ainda necessitamos avançar, mas já conseguimos nos fazer entender, nos diferenciamos e promovemos parcerias sem ocupar ou "invadir o mercado, apenas estamos exigindo uma legalização de uma atuação já legitimada pelo mercado de trabalho" (NOFFS, p 2)

As ações que caracterizam uma comunidade cidadã é a luta por uma comunidade justa, equilibrada, constituída a partir de um objetivo comum e bom para todos. Pois bem, isso nos leva ao entendimento da nossa responsabilidade e do nosso compromisso político social de aprender, em cada novo dia, a promover mais aprendizagens. Como nos ensinou Paulo Freire "Ai de nós, educadores, se deixarmos de sonhar sonhos possíveis..."

A questão da formação do psicopedagogo assume um papel de grande importância na medida em que é a partir dela que se inicia o percurso para a formação da identidade desse profissional.Alicia Fernández afirma o seguinte: "O pensamento é um só, não pensamos por um lado inteligentemente e, depois, como se girássemos o dial, pensamos simbolicamente. O pensamento é como uma trama na qual a inteligência seria o fio horizontal e o desejo vertical, Ao mesmo tempo, acontecem a significação simbólica e a capacidade de organização lógica" (1990, p. 67).

O trabalho psicopedagógico não pode confundir-se com a prática psicanalítica e nem tampouco com qualquer prática que conceba uma única face do sujeito. Um psicopedagogo, cujo objeto de estudo é a problemática da aprendizagem, não pode deixar de observar o que sucede entre a inteligência e os desejos inconscientes. Diz Piaget que "o estudo do sujeito ‘epistêmico’ se refere à coordenação geral das ações (reunir, ordenar ,etc.) constitutivas da lógica, e não ao sujeito ‘individual’, que se refere às ações próprias e diferenciadas de cada indivíduo considerado à parte" (1970, p. 20). Desse sujeito individual ocupa-se a psicopedagogia. O conceito de aprendizagem com o qual trabalha a Psicopedagogia remete a uma visão de homem como sujeito ativo num processo de interação com o meio físico e social. Nesse processo interferem o seu equipamento biológico, as suas condições afetivo-emocionais e as suas condições intelectuais que são geradas no meio familiar e sociocultural no qual nasce e vive o sujeito. O produto de tal interação é a aprendizagem.

Na maioria das vezes em programas lato sensu regulamentados pela Resolução n° 12/83, de 06.10.83, que forma os especialistas e que os habilita legalmente também para o ensino superior – ainda que não necessariamente, em termos de conhecimentos, o aluno esteja realmente habilitado para tal.Além das diferenças resultantes da própria divergência acerca do que é a Psicopedagogia, ocorre também que, a depender do enfoque priorizado pelo curso, alguns conteúdos são valorizados em detrimento de outros. Outro aspecto a considerar é que o curso se destina a profissionais com diferentes graduações. Estes se identificam com um referencial teórico que irá nortear a sua prática a partir da formação anterior. Interferem também características de personalidade no perfil desse profissional.Conhecer a Psicopedagogia implica um maior conhecimento de várias outras áreas, de forma a construir novos conhecimentos a partir delas. Ao concluir o curso de especialização em Psicopedagogia, o aluno está iniciando a sua formação, o que deve ser um ponto de partida para uma eterna busca do melhor conhecimento.

2.6 A PRÁTICA PSICOPEDAGÓGICA

O trabalho psicopedagógico, implica compreender a situação de aprendizagem do sujeito dentro do seu próprio contexto. Tal compreensão requer uma modalidade particular de atuação para a situação em estudo, o que significa que não há procedimentos predeterminados. Defino esta característica como uma configuração clínica da prática psicopedagógica.O psicopedagogo, procura observar o sentido particular que assumem as alterações da aprendizagem do sujeito ou do grupo. Busca o significado de dados que lhe permitirá dar sentido ao observado. Na medicina, o médico observa o paciente, vê o que se passa, escuta o seu discurso para fazer o diagnóstico e proceder ao tratamento. A expressão "olho clínico", emprestada da Medicina, é freqüentemente utilizada na Psicopedagogia Clínica referindo-se à postura terapêutica do profissional.

Ora, na instituição escolar, a prática psicopedagógica também apresenta uma configuração clínica. O psicopedagogo pesquisa as condições para que se produza a aprendizagem do conteúdo escolar, identificando os obstáculos e os elementos facilitadores, numa abordagem preventiva. Uns e outros (elementos facilitadores e obstáculos) são condicionados por diferentes fatores, fazendo com que cada situação seja única e particular. Esse trabalho requer uma atitude de investigação e intervenção.

A Psicopedagogia preventiva se baseia principalmente na observação e análise profunda de uma situação concreta, de forma que podemos considerar clínico o seu trabalho.A função preventiva está implícita na atitude de se considerar aquele grupo específico como os sujeitos da aprendizagem, de forma a adequar conteúdos e métodos, ou seja, respeitando as características do grupo a pensar o plano de trabalho. O caráter clínico está na atitude de investigação frente a essa situação como uma situação particular e única, quer dizer, há características problemáticas, experiências condições, manifestações do grupo ou sujeito muitas vezes intransferíveis.O trabalho clínico na Psicopedagogia tem função preventiva na medida em que, ao tratar determinados problemas, pode prevenir o aparecimento de outros.

As características da família, da escola, ou até mesmo do professor podem ser a causa desencadeante do problema de aprendizagem. Assim, essas características que constituem a causa problemática influenciam também na forma de abordagem do profissional. Ainda que o psicopedagogo assim o desejasse, seria-lhe impossível negar a família, a escola, o professor ou mesmo a comunidade.

Para Fernández e Paín, o problema de aprendizagem pode ser gerado por causas internas ou externas à estrutura familiar e individual, ainda que sobrepostas. Os problemas ocasionados pelas causas externas são chamados por essas autoras de problemas de aprendizagem reativos, e aqueles cujas causas são internas à estrutura de personalidade ou familiar do sujeito denomina-se inibição ou sintoma – ambos os termos emprestados da Psicanálise. Segundo essas autoras, quando se atua nas causas externas, o trabalho é preventivo. Já na intervenção em problemas cujas causas estão ligadas à estrutura individual e familiar da criança, o trabalho é terapêutico.

Segundo Alicia Fernández (1990), (para resolver o problema de aprendizagem reativo) necessitamos recorrer principalmente a planos de prevenção nas escolas, porém, uma vez gerado o fracasso e conforme o tempo de sua permanência, o psicopedagogo deverá também intervir, ajudando através de indicações adequadas para que o fracasso do ensinante, encontrando um terreno fértil na criança e sua família, não se constitua em sintoma neurótico.Para resolver o fracasso escolar, quando provém de causas ligadas à estrutura individual e familiar da criança, vai ser requerida uma intervenção psicopedagógica especializada. Para procurar a remissão desta problemática, deveremos apelar a um tratamento psicopedagógico clínico que busque libertar a inteligência e mobilizar a circulação patológica do conhecimento em seu grupo familiar.

É a escola, indubitavelmente, a principal responsável pelo grande número de crianças encaminhadas ao consultório por problemas de aprendizagem. Assim é extremamente importante que a Psicopedagogia dê a sua contribuição à escola, seja no sentido de promover a aprendizagem ou mesmo tratar de distúrbios nesse processo. "Todo pensamento, todo comportamento humano, remete-nos à sua estruturação inconsciente, como produção inteligente e, simultaneamente, como produção simbólica" (Paín, apud Fernández, 1990, p. 233).

Quando não se pode negar que o homem é sujeito a uma ordem inconsciente e movido por desejos que desconhece, falar do tratamento psicopedagógico significa muito mais que discorrer sobre métodos definidos de reeducação.Encontramos na literatura orientações de tratamento que estão acompanhadas de um plano de treino de memória visual, onde em síntese as atividades consistem na apresentação de estímulos visuais que, após serem retirados do campo visual da criança, devem ser evocados e representados segundo a instrução do reeducador.

O enquadre que se refere ao estabelecimento do marco fundante da ação terapêutica – a definição do universo da relação clínica – e que, portanto, engloba elementos como tempo, lugar, freqüência, duração, material de trabalho e estabelecimento da atividades, nessa modalidade de tratamento tem como objetivo, sempre, solucionar os problemas de aprendizagem, motivo do encaminhamento.

3. CONCLUSÃO

O fracasso escolar na alfabetização, ainda hoje, faz parte do cotidiano das nossas escolas, acarretando na grande maioria das vezes na reprovação. O trabalho psicopedagógico pode e deve ser pensado a partir da instituição escolar, a qual cumpre uma função social: a de socializar os conhecimentos disponíveis, promover o desenvolvimento cognitivo e a construção de regras de conduta, dentro de um projeto social mais amplo.Através da aprendizagem, o sujeito é inserido, de forma mais organizada, no mundo cultural e simbólico, que o incorpora à sociedade.A entrada na escola significa antes de mais nada para a criança, uma penetração num círculo social mais amplo, uma ocasião de enfrentar o desconhecido.Esse momento pode representar uma oportunidade para um agravamento de tensões, incertezas e carências que já vem de longe com a criança, mas também pode constituir-se numa oportunidade para que a criança reexperimente o mundo, as pessoa e a vida de outra maneira: mais construtiva, mais confiante, mais feliz.Na sua tarefa junto às instituições escolares o psicopedagogo deve refletir sobre estas questões, buscando dar a sua contribuição no sentido de prevenir ulteriores problemas de escolaridade.O diagnóstico psicopedagógico é um processo, um contínuo sempre revisável, onde a intervenção do psicopedagogo inicia, numa atitude investigadora, até a intervenção. É preciso observar que essa atitude investigadora, de fato, prossegue durante todo o trabalho, na própria intervenção, com o objetivo da observação.

Essa constatação reforça a importância do psicopedagogo institucional no sentido de criar condições juntamente com os professores para que a aprendizagem da leitura e da escrita aconteça de maneira eficaz, prazerosa e significativa. Atuando, como assessor, na busca da melhoria do processo de aprendizagem, desenvolvendo um trabalho integrado professor-psicopedagogo-escola no sentido de melhor desenvolver a prática educativa. Isto significa que o professor precisa entender como acontece a aprendizagem da leitura e da escrita, buscando as origens das dificuldades, do fracasso, avaliar, diagnosticar e, acima de tudo, estabelecer um rumo teórico de ação.Portanto, através da intervenção psicopedagógica dirigida aos professores que se acredita no real progresso da aprendizagem voltada sobretudo, a uma educação integrada ao desenvolvimento do aluno como agente produtor do seu meio e não apenas como um resultado.

Se estivermos atentos para isto poderemos contribuir para que a escola corresponda de modo positivo às suas necessidades e expectativas. È uma forma muito eficaz de se prevenir o aparecimento dos temidos problemas de comportamento.Estes, apesar da nossa cautela, muitas vezes se manifestam. Para não agravar ou precipitar a sua evolução a observação continua sendo indispensável e juntamente com ela a atenção e a dedicação.Quando tudo isso não bastar devemos procurar uma orientação especializada pois pode ser que o nosso aluno esteja precisando de algo mais que não depende só de nós

A especificidade do tratamento psicopedagógico consiste no fato de que existe um objetivo a ser alcançado: a eliminação do sintoma. Assim, a relação psicopedagogo-paciente é mediada por atividades bem definidas, cujo objetivo é "solucionar rapidamente os efeitos mais nocivos do sintoma para depois dedicar-se a afiançar os recursos cognitivos" (Pain, 1986, p. 77). Este é um aspecto cuja prática tem me mostrado como bastante complicado na atuação do psicopedagogo, pois está relacionado com a operacionalização do trabalho e conseqüentemente com seu êxito."Somente uma boa avaliação psicopedagógica de fracasso escolar de uma criança pode discernir e ponderar devidamente "o que" e o "quantum" é da criança, da escola, da família e da interação constante dos três vetores na construção das dificuldades de aprendizagem apontadas pela escola".A conquista do espaço na escola significa uma escola aberta, contígua à vida, cheia de presenças humanas, realizando experiências realmente brasileiras.

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Robson Stigar